(Série: Reeditando artigos interessantes)

Indo
direto ao ponto, a partir de relatos de vários pacientes LGBTQ+, conclui que à
medida que a psicologia desenvolveu mais consciência e aceitação das minorias
sexuais, a discriminação aberta deu lugar a formas mais sutis de viés
heterossexista. Ou seja, a discriminação desses pacientes está sendo, infelizmente,
realizada por “agressões disfarçadas” e sutis como um olhar, um tom de voz ou
mesmo (o que é pior, tratando-se de um psicólogo), com um comentário
heterossexual.
Minha
crítica inicial é que a natureza dessas “agressões disfarçadas” pode deixar as pessoas LGBTQ+ se perguntando se suas dúvidas psicológicas e sentimentos confusos são uma
reação exagerada ou "algo errado". Essas pessoas, após sofrerem esse
tipo de agressão, podem se sentir estigmatizados, irritados, invalidados e
rejeitados pelo psicoterapeuta. Um estresse que, obviamente, pode levar o
paciente LGBTQ+ à angústia, depressão, ansiedade e afetar negativamente a sua saúde
física.
Suponho
que essas “agressões disfarçadas” transmitem vícios do terapeuta mas o fato é
que elas podem minar e danificar a relação terapêutica. Pode estar havendo uma
falta de consciência dos preconceitos em relação às minorias sexuais mas não me
cabe discutir a condição do meu colega, focando, contudo, no impacto negativo dessa
atitude no processo terapêutico. A qualidade da relação psicoterapeuta-paciente
pode melhorar quando os terapeutas reconhecem as “agressões disfarçadas” que
fazem durante a psicoterapia com clientes LGBTQ+. Isso, certamente, cria uma
atmosfera de confiança que pode cultivar conversas mais profundas sobre as
necessidades dos pacientes.
Dentre
as “agressões disfarçadas”, a mais grave, em minha opinião, é a crença de que o(a)
paciente LGBTQ+ é um(a) heterossexual necessitando de apoio num momento de dúvida.
Supor que todos os indivíduos LGBTQ+ necessitem de psicoterapia também é um
posicionamento preconceituoso. Afirmar que ver-se como LGBTQ+ é que causou o
problema psicológico do cliente ocorre com alguma frequência. Alguns pacientes
me contaram que alguns terapeutas supervalorizaram ou simplesmente não deram a
mínima importância às suas orientações sexuais, ou mesmo deixaram evidente suas
crenças de que a heterossexualidade é a única orientação normal. Outros terapeutas
parecem ter mostrado pressupostos estereotipados sobre a cultura LGBTQ+, e tem
ainda aqueles que se prendem à suposição (sem a necessária investigação) de que
traumas com o sexo oposto são a causa que leva homens e mulheres heterossexuais
mudarem sua orientação sexual.
Atendo
pacientes LGBTQ+ há muito tempo e gostaria de dar uma dicas sobre o que fazer para
o processo ser produtivo. O primeiro passo é construir uma relação positiva e,
para isso, algumas condições são necessárias. O psicoterapeuta tem que se
sentir bem trabalhando com clientes LGBTQ+ e deve ser uma pessoa resolvida em sua
própria orientação sexual e identidade de gênero. Ele também deve ser isento de
preconceitos e atitudes negativas nem deve, tampouco, sentir-se privilegiado por ser heterossexual.
É importante estar consciente da possibilidade de estar prestando cuidados
através de uma lente heteronormativa, e que isso pode levar a uma má interpretação dos
pensamentos, sentimentos e comportamentos de clientes LGBTQ+. O terapeuta tem que
ter uma boa ideia sobre a cultura e o mundo LGBTQ+. Está muito claro prá mim que
clientes se frustram quando seu terapeuta não conhece o suficiente sobre isso.
Esse conhecimento deve ser obtido através de estudos pois apenas ter amigos LGBTQ+ não o torna competente.
Na
psicoterapia é indispensável ter ciência da fase do desenvolvimento da identidade
de orientação sexual está o seu paciente. Conhecer essa fase ajuda a dar
contexto às preocupações apresentadas por ele e o seu grau de auto-aceitação
como uma pessoa LGBTQ+. Além da orientação sexual, outros fatores como raça, etnia,
classe, religião e eventuais deficiências podem agregar complexidade à
identidade e apresentação clínica desses clientes. Deve-se criar uma sensação de segurança e confiança na relação terapêutica
validando as experiências dos clientes LGBTQ+ como uma minoria sexual e mostrando
que você está ciente e compreende o impacto do estigma sobre a vida deles.
Estar ciente dos diversos tipos de agressões que ocorrem na sociedade, é claro,
é indispensável para o sucesso do trabalho.
É
interessante saber que apenas cerca de 25% de clientes homossexuais, lésbicas,
gays, travestis e “trans” preferem um psicoterapeuta que também seja LGBTQ+. Logo,
é fundamental que os terapeutas heterossexuais saibam como oferecer terapia
favorável a esses clientes, afinal, trabalhar solidária e positivamente pela melhoria
da saúde mental e emocional deve ser um objetivo de todos os psicólogos
independentemente do cliente. Isto é particularmente importante quando se
trabalha com qualquer grupo discriminado, incluindo o grupo LGBTQ+, o que exige
que psicólogos desenvolvam a autoconsciência, a competência e as habilidades
para trabalhar com clientes minoritários sexuais. Isso inclui trabalhar para
descobrir, reconhecer, desafiar e mudar crenças e atitudes heterossexuais para
habilitar-se e capacitar-se para essa atividade. A maioria dos clientes que
procuram terapia apresenta preocupações que podem ser dolorosas e confusas e os
psicoterapeutas de LGBTQ+ devem esforçar-se para aliviar estas preocupações, sem
trazer tendências ou pressupostos heteronormativos subjacentes à psicoterapia.
Espero que tenha gostado desse artigo. Há vários outros artigos no Blog do Psicólogo (www.blogdopsicologo.com.br) - acesse-os! CLIQUE AQUI para ler um artigo como lidar com a frustração.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
Psicólogo de linha humanista com acentuada orientação junguiana e budista.
Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
Consultório próximo ao Shopping Metrô Santa Cruz. Atendimento de segunda-feira aos sábados. Marcação de consultas pelo tel. 11.94111-3637 ou pelo whatsapp 11.98199-5612
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