Muitos dos meus pacientes são pessoas que não
estavam lidando bem com seu chefe ou com a pressão das empresas onde trabalhavam, o que
cabe, portanto, perguntar a você, leitor, o seguinte: “a sua empresa é daquelas
que, face à pressão por resultados imediatos, pouco tem focalizado a atenção ao
fato de que as pessoas se sentem ansiosas, inseguras, desgastadas
e perplexas em muitos momentos de suas vidas? Ou faz parte do rol de
empresas que entende que, por serem constituídas de pessoas, podem se tornar
(corporativamente) ansiosas, deprimidas, sofrerem de pânico, fobias, e outros
transtornos psicológicos?”
Apesar das pessoas estarem se tornando cada vez mais conscientes a respeito de suas escalas de prioridades e também mais preocupadas com a autoestima, autoconfiança, culto ao corpo, felicidade e plenitude na vida, o fato é que um grande número de empresas e uma boa parcela dos chefes nessas empresas ainda não aprenderam que não há linhas divisórias entre o ser humano e o profissional, o que é um dificultador para aspectos como qualidade de vida e felicidade, os quais deveriam ser nas empresas, tão importantes quanto tecnologia e métodos de auditoria, quando se pensa em resultados e produtividade.
Inicialmente, vamos falar dos
chefes. Sim, é verdade, o seu “chefe tóxico” pode estar prejudicando a sua
saúde mental! Esses chefes são, infelizmente, uma das principais causas de
infelicidade no local de trabalho. Milhares de funcionários deixam seus
empregos para se afastarem de um gerente incompetente (relacionamento
interpessoal ou tecnica), e muitos outros, sentindo-se assediados
psicologicamente, procuram um tratamento psicoterápico – por depressão,
nervosismo, bullying ou outros motivos. Se você for um funcionário com um chefe
ruim, sabe bem o que isso pode fazer com seus níveis de estresse e satisfação no
trabalho. Interessante, porém triste, são as constatações de que funcionários
de chefes narcísicos e psicopatas são os que mais mostram sinais de depressão,
de envolvimento com bullying e falta de cooperação no trabalho.
Creio que seja importante
dizer que há chefes tóxicos do tipo que não são muito bons em suas
atividades técnicas. Outros, especialmente se narcísicos ou psicopatas,
frequentemente mostram comportamentos destrutivos e prejudicam os outros em
benefício próprio. Denotam apreciar dor e o sofrimento de outras pessoas,
portanto, com reais indícios de que são pessoas más e abusivas. Uma pessoa com
tendências narcísicas e psicopatas é alguém que mostra um forte desejo de poder
e falta empatia pelos outros. Num chefe, isso pode se manifestar querendo levar
vantagens sobre seu time, ficar com o crédito pelo trabalho realizado por um
membro da equipe, ser um profissional excessivamente crítico e intimidador. Essas
pessoas estão focados principalmente em chegar ao topo da pirâmide e não estão
preocupados com quem eles podem prejudicar nesse caminho.
Do ponto de vista da saúde
física, está claro que ser subordinado a um chefe tóxico pode levar a outros
tipos de problemas de saúde: grande risco de pressão alta, estresse crônico,
problemas de sono, ansiedade, problemas de abuso de substâncias tóxicas, ataques
cardíacos e outros problemas de saúde.
Assim é que posso dizer, com segurança, que
ansiedade e estresse não são patrimônios exclusivos de executivos atarefados;
além disso, posso dizer, também, que a competitividade acabou substituindo a
colaboração, o que é um paradoxo se levarmos em conta que vivemos na época do
trabalho em equipe. Isso e muitas outras variáveis aumentam o grau de ansiedade
(temor indefinido experimentado como expectativa do pior) dos profissionais nas
empresas como também as frustrações. Vejo as empresas dando “tiros nos pés”
pois apesar de quererem profissionais comprometidos e engajados com seus
resultados, mantém ambientes hostis onde a ansiedade é apenas o ponto de
partida a um atalho que conduz ao tédio. Essa ansiedade gerada nas empresas
(inclusive com ataques de pânico), conduzem a um certo cansaço psicológico que
plana sobre um sentimento de vazio e neutralidade perante tudo quanto rodeia o
trabalhador. O quadro agrava-se com a depressão pois essa é uma doença do
organismo como um todo, que compromete o físico, o humor e, em conseqüência, o
pensamento. Como altera a maneira como a pessoa vê o mundo, sente a realidade,
entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida,
pode-se dizer que altera, da mesma forma, a empresa onde trabalha. Ela traz
muitas outras manifestações comportamentais que podem prejudicar o esforço
pelos resultados empresariais, tais como “fracassomania”, inveja, oposição
neurótica, estresse, paranóia, hostilidade, intolerância às críticas,
necessidade de poder, inimizades, etc. Há, ainda, os “fantasmas” do corpo que tanto
influenciam a autoestima e a vaidade humana.
Não se pretende tomar por depressão qualquer
sintoma conseqüente às dificuldades e frustrações do dia-a-dia, aos
aborrecimentos a que todos estamos sujeitos ou as reações às queixas dos chefes
sobre as performances dos funcionários. É uma doença afetiva (ou do humor), e
não, simplesmente, um "baixo astral" passageiro. Também não é sinal
de fraqueza ou de falta de pensamentos positivos, mas as conseqüências podem
ser muito negativas para as empresas, como alguns exemplos abaixo:
- A
autoimagem e a autoestima destes trabalhadores costumam estar francamente
deterioradas a ponto de não se verem capazes de realizar suas tarefas ou
novos desafios.
- O
profissional depressivo tende a isolar-se afetando a comunicação interna e
a qualidade do trabalho em equipe.
- A
depressão pode evoluir para a síndrome de pânico ou outras fobias
paralisando o funcionário nas situações de maior pressão.
- O
funcionário poderá apresentar transtorno somatomorfo, ou seja, manifestará
no corpo, em forma de doenças, a ansiedade ou a depressão, podendo ser
frequentemente afastado de suas atividades.
- A
ansiedade é um quadro que poderá evoluir para o consumo excessivo de
álcool e/ou drogas.
- Muitas
vezes somam-se os sintomas de persecutoriedade, ou seja, de ser perseguido
e isso pode alterar negativamente o clima entre os funcionários e gerar
sérios conflitos individuais ou grupais.
Enfim, não apenas importante, é imprescindível cuidar
da saúde psicológica dos trabalhadores. Sentimentos como raiva, tristeza ou
frustração, quando ignorados, podem drenar a vitalidade dos profissionais e, também,
minar a competitividade de uma empresa. O sofrimento é um subproduto inevitável
da rotina dos negócios - administrar mudanças, liderar projetos, criar produtos
ou buscar resultados sempre levará os profissionais a algum nível de sofrimento.
Cuide de si mesmo, fazer psicoterapia é uma boa opção nesses casos, e busque outras soluções para as dificuldades que está vivendo. Se você trabalha numa empresa problemática ou tem um chefe ruim, fique bastante atento pois tudo isso pode ser um veneno que mina a sua autoestima e afeta a sua confiança, tendo como conseqüências, a perda de produtividade à vontade de parar de trabalhar.
Espero que
tenha gostado desse artigo. Há vários outros artigos no Blog do Psicólogo (www.blogdopsicologo.com.br) - acesse-os! CLIQUE AQUI para
ler sobre a depressão.
Um abraço,
Psicólogo
Paulo Cesar
Psicoterapeuta
de adolescentes, adultos e casais. Psicólogo de linha humanista com
acentuada orientação junguiana e budista. Palestrante sobre temas ligados
ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
Consultório
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