DIZ O FILHO: “EU NÃO SOU MAIS UMA CRIANÇA” - REFLEXÕES: ADOLESCENTE NÃO É CRIANÇA

Capítulos 4.1. e 4.2. do livro "FILHOS PEDEM ATENÇÃO, PAIS BUSCAM RESPOSTAS - O QUE OS FILHOS SENTEM. O QUE OS PAIS PODEM OUVIR"


4.1 - Diz o Filho: “Eu não Sou Mais Uma Criança”

Pai, mãe, eu sei que pra vocês é difícil. Ainda lembram de mim correndo pela casa com brinquedos na mão, pedindo colo, falando com a voz fina e rindo de qualquer coisa. E eu entendo. De verdade. Mas o tempo passou. E eu mudei. Por dentro e por fora. Só que, às vezes, parece que vocês ainda enxergam aquele menino - ou aquela menina - que eu fui, e não quem estou me tornando.

É como se vocês ainda esperassem que eu obedecesse sem questionar. Que eu sorrisse pra tudo. Que eu fosse sempre doce, sempre previsível, sempre tranquilo. Mas agora eu tenho opiniões, vontades próprias, dias em que quero ficar no meu canto. Às vezes eu me irrito com pouco. Noutras, fico sensível sem saber por quê. Tem dias em que eu mesmo não me reconheço. E o mais difícil é quando vocês também não me reconhecem - e, em vez de tentar entender, só brigam.

Quando eu reclamo, vocês dizem que estou respondendo. Quando questiono, vocês dizem que estou desrespeitando. Quando me isolo, acham que estou de “manha”. Parece que tudo o que eu faço é errado, só porque não faço mais do jeito que fazia antes. Mas será que vocês não percebem que isso faz parte do meu crescimento?

Eu preciso ser visto como sou agora. Com as dúvidas, as confusões, os altos e baixos. Preciso de espaço pra errar, pra testar, pra pensar diferente de vocês. E, principalmente, preciso que parem de comparar com “quando eu era criança”. Eu não sou mais aquela criança. E, mesmo que às vezes sinta falta da segurança de antes, eu estou tentando me tornar quem eu sou.

É difícil crescer. Machuca. Dói quando a gente se sente estranho no próprio corpo. Quando parece que ninguém entende. Quando os amigos mudam, os sentimentos bagunçam, e tudo vira um caos por dentro. E aí, quando chego em casa esperando encontrar abrigo, o que recebo é bronca, julgamento ou aquele silêncio que grita: “Você decepcionou”.

Eu sei que mudei. Mas não virei inimigo. Não sou rebelde por prazer. Não quero confrontar vocês o tempo todo. Só estou tentando existir com um pouco mais de verdade, mesmo que isso doa. Às vezes, tudo o que eu preciso é que vocês respirem fundo, me olhem com olhos novos, e digam: “a gente está aprendendo a lidar com essa nova versão de você”.

E se eu errar, por favor, não me reduzam ao erro. Me ajudem a entender. Me ajudem a crescer. Não quero proteção sufocante, mas também não quero abandono emocional. Quero presença firme, não autoritarismo. Quero escuta, não sermão. Quero afeto, mesmo quando estiver difícil gostar de mim.

Eu ainda sou filho de vocês. Só que agora, mais do que nunca, preciso ser tratado como alguém que está em transição. Nem criança, nem adulto. Apenas alguém tentando se tornar inteiro. E, se vocês conseguirem atravessar essa fase comigo, eu juro: um dia a gente vai rir de tudo isso - juntos.

Com afeto (e vontade de ser compreendido),

seu filho adolescente.

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Pontos-chave

  • O adolescente busca reconhecimento de sua crescente autonomia.
  • Ser tratado como criança pode gerar frustração e resistência.
  • A independência precisa vir acompanhada de responsabilidade proporcional.
  • A confiança dos pais fortalece o senso de identidade do filho.

Convite à Reflexão

  • Tenho reconhecido as capacidades e limites que meu filho já conquistou?
  • Sei equilibrar proteção com liberdade crescente?
  • Será que, por medo, estou retardando a autonomia dele?

Sugestões de Ação

  • Ofereça responsabilidades compatíveis com a idade e maturidade.
  • Dialogue sobre limites de forma clara e negociada.
  • Evite infantilizar na fala ou no tratamento diário.
  • Reconheça publicamente as conquistas e avanços de autonomia.

Indicações

  • Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014) – Crescimento e transição para a vida adulta. Disponível: Amazon Prime Video, Google Play, Apple TV.
  • Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006) – Individualidade e amadurecimento. Disponível: Amazon Prime Video, Google Play, Apple TV.
  • Livro: Adolescência: Do Adeus à Infância à Construção de Si (Ross Campbell, 2018) – Entender as transições da adolescência.

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4.2 - Reflexões: Adolescente não é criança

Há um momento, quase sempre silencioso e não anunciado, em que os filhos deixam de nos olhar com o encantamento próprio da infância - e começam a nos fitar com a exigência de quem deseja ser visto de forma diferente. O brilho nos olhos que antes refletia admiração começa a dar lugar a expressões de irritação, indiferença ou resistência. E os pais, muitas vezes, se perguntam: “o que aconteceu com aquele menino doce, com aquela filha tão afetuosa?”

É natural que essa transição doa. De um dia para o outro - ou assim parece -, aquele ser pequeno, dependente e afável se transforma em alguém que se fecha no quarto, responde atravessado, questiona ordens, evita demonstrações de afeto e passa a demandar liberdade com urgência. Muitos pais vivem esse momento como uma perda. E, de certo modo, é mesmo. É o fim de um tempo. Mas não é o fim do amor - é o começo de uma nova forma de amar.

A adolescência é uma travessia emocional e simbólica. E como toda travessia, envolve rupturas. Os filhos precisam se afastar para poder se diferenciar. Precisam deixar de ser definidos apenas pelos olhos dos pais para descobrir como querem ser reconhecidos no mundo. Esse processo pode gerar tensão, mas não deve ser interpretado como rejeição pessoal.

Infelizmente, muitos pais não estavam preparados para esse afastamento. Esperavam que o vínculo da infância fosse eterno, que os filhos continuassem obedientes, dóceis, acessíveis. Quando se deparam com a realidade da adolescência - com sua intensidade emocional, seus silêncios, suas explosões e sua busca por autonomia -, reagem com dor, rigidez ou mesmo com afastamento. Passam a ver o adolescente como “difícil”, “desafiador”, “insolente”. E a relação, antes pautada pelo afeto, passa a ser conduzida pelo controle e pelo conflito.

Mas é preciso compreender: um adolescente não é mais uma criança. E tratá-lo como tal é uma forma de negar o processo vital de crescimento que está em curso. Assim como o corpo se transforma, a mente e o coração também entram em ebulição. O adolescente pensa diferente, sente diferente, vive uma crise de identidade - e precisa ser acompanhado nesse processo, não impedido de vivê-lo.

É comum que, diante dessas mudanças, pais se perguntem: “onde foi que eu errei?”. Mas a pergunta mais útil seria: “como posso me adaptar a esse novo momento sem perder o vínculo?”

A adolescência não é uma ofensa. Não é desobediência por maldade. É uma exigência da natureza do desenvolvimento humano. O jovem está em construção - e construir-se implica, muitas vezes, destruir moldes antigos. Isso inclui a forma como se via, como era visto, como se relacionava. E o adulto que compreende isso com maturidade tende a se tornar uma referência mais sólida e confiável para o adolescente.

Isso não significa abdicar do papel orientador. Pelo contrário. Um adolescente precisa - e muito - de orientação, de limites consistentes, de supervisão afetiva. Mas ele precisa disso de uma forma nova. Não mais por imposição, mas por conexão. Não mais por medo da punição, mas por respeito ao vínculo.

Pais que conseguem manter o canal de escuta aberto mesmo nos momentos de confronto constroem uma ponte segura entre o passado infantil e o futuro adulto do filho. Essa ponte é feita de paciência, de silêncio respeitoso, de perguntas sem julgamento, de presença firme que não se assusta com o caos.

Quando o adolescente disser “vocês não me entendem”, evite reagir com raiva. Em vez disso, tente perguntar: “me ajuda a entender?”. Quando ele responder com irritação, lembre-se de que essa irritação muitas vezes é só a superfície de uma confusão interna muito maior. Quando ele se isolar, não o abandone. Continue batendo à porta, mesmo que com um simples “estou aqui se precisar”.

Outra armadilha comum é o uso da comparação com a infância: “quando você era pequeno, era tão carinhoso”, “antes você me escutava, agora só rebate”. Esses comentários, embora saudosos, são vividos pelo adolescente como invalidações. Ele sente que, para continuar sendo amado, precisaria regredir ao que já não é mais. E isso gera culpa, vergonha, ressentimento.

Ao invés de comparar, acolha. Diga: “sei que você está mudando, e que isso pode ser confuso até para você. Mas quero estar aqui, mesmo sem entender tudo”. Essa atitude, embora simples, é profundamente terapêutica. Ela legitima o movimento de crescimento e reafirma a continuidade do amor.

Outro ponto essencial é entender que adolescentes nem sempre verbalizam suas dores com clareza. Muitos preferem o silêncio, a ironia, a distância. Isso não significa que não desejam ser amados. Significa apenas que ainda não sabem como expressar suas vulnerabilidades. Se você estiver presente, sem invadir; disponível, sem sufocar; firme, sem agressividade - seu filho, em algum momento, vai procurar esse colo.

A adolescência, embora marcada por tensões, é também uma chance preciosa de reconstruir o vínculo sob bases mais maduras. Um amor que deixa de ser protetor para se tornar respeitoso. Uma convivência que troca a autoridade unilateral pelo diálogo honesto. Uma confiança que não se baseia mais no medo, mas na presença constante.

Sim, haverá momentos difíceis. Haverá gritos, portas batidas, lágrimas. Mas haverá também reconciliações, silêncios compartilhados, abraços inesperados. Se você conseguir atravessar esse tempo com o coração aberto, descobrirá que o amor pode se transformar - e, ao se transformar, pode se aprofundar.

Seu filho adolescente ainda é seu filho. Mas está aprendendo a ser ele mesmo. E você, como adulto, está sendo convidado a amadurecer também - não para controlar, mas para acompanhar. Não para impedir o voo, mas para garantir que, quando ele voar, saiba que sempre poderá voltar para um ninho onde foi respeitado em sua travessia.

Porque, no fundo, todo adolescente precisa disso: ser visto, mesmo quando muda; ser amado, mesmo quando erra; ser respeitado, mesmo quando ainda está em construção. E todo pai e toda mãe têm essa chance: a de continuar sendo casa - mesmo que a porta, às vezes, esteja entreaberta.

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Pontos-chave

  • A adolescência é uma fase de transição, não de ruptura total.
  • Respeitar o processo de amadurecimento evita conflitos desnecessários.
  • O diálogo ajuda a ajustar expectativas de ambos os lados.

Convite à Reflexão

  • Sei reconhecer quando meu filho está pronto para decidir por si mesmo?
  • Como lido com o medo de vê-lo errar?
  • Tenho clareza de que errar faz parte do crescimento?

Sugestões de Ação

  • Construa juntos um “mapa” de responsabilidades e liberdades.
  • Ajuste gradualmente o grau de supervisão conforme a maturidade demonstrada.
  • Mostre confiança, mas esteja disponível para aconselhar quando solicitado.
  • Celebre avanços, mesmo que pequenos, rumo à independência.

Indicações

  • Juno (2007) – Maturidade precoce e escolhas difíceis. Disponível: Amazon Prime Video, Google Play, Apple TV.
  • O Começo da Vida (2016) – Desenvolvimento humano e transição da infância. Disponível: Netflix, Amazon Prime Video.
  • Livro: A Adolescência e o Sentido da Vida (Viktor Frankl, 2019) – Enfrentando mudanças e encontrando propósito.

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Sobre o livro "FILHOS PEDEM ATENÇÃO, PAIS BUSCAM RESPOSTAS - O QUE OS FILHOS SENTEM. O QUE OS PAIS PODEM OUVIR"

Este livro nasceu da escuta atenta da vida dos adolescentes e das inquietações dos pais. A cada conjunto de capítulos, o leitor encontra duas vozes em diálogo:

  • 💌 A carta de um filho adolescente, revelando sentimentos, medos, desejos e conflitos.

  • 🗝️ A reflexão do psicólogo, que acolhe, interpreta e aponta caminhos possíveis para fortalecer vínculos familiares.

Não se trata de receitas prontas, mas de uma ponte de compreensão entre gerações. Pais e mães descobrirão como ouvir de verdade, com empatia e presença; filhos sentirão que suas vozes e dores podem ser traduzidas em palavras que tocam o coração adulto.

É uma leitura para famílias, educadores e todos que convivem com adolescentes, trazendo clareza sobre os desafios do crescimento e esperança sobre a possibilidade de diálogo amoroso.

O livro está disponível na Amazon Kindle: https://www.amazon.com.br/dp/B0FMFTGFY8 

E-Book Kindle: R$ 84,99 ou diretamente com o autor, via whatsapp 11 9 81995612

Em breve, lançamento do livro impresso.

Um abraço,

Paulo C. T. Ribeiro

• Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.

• Psicólogo Orientador Parental

• Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.

• Escritor.

• Contatos: www.psipaulocesar.psc.br


ANCESTRALIDADE E PSICOLOGIA: ENTRE RAÍZES, IDENTIDADE E EXPERIÊNCIA HUMANA

A palavra ancestralidade evoca a ligação invisível que une cada ser humano às gerações que o precederam. Mais do que herança genética, trata-se de uma dimensão simbólica, cultural e psicológica, onde memórias, valores e experiências se perpetuam. A Psicologia, em suas diferentes vertentes, tem se aproximado dessa noção para compreender como o passado coletivo influencia a subjetividade individual.

Tenho um apreço especial por esse tema e, em razão disso, decidi compartilhar essas reflexões com vocês.

Explorar a ancestralidade é, ao mesmo tempo, uma viagem para dentro e para fora de si: uma busca de autoconhecimento e pertencimento, mas também uma forma de dialogar com a história da humanidade e com as narrativas que nos antecederam.

A ancestralidade pode ser entendida como um fio invisível que conecta passado, presente e futuro. Ela se manifesta em traços físicos, mas também em modos de ser, hábitos, crenças e valores que atravessam gerações. Conhecer as histórias de avós, bisavós e antepassados distantes é uma experiência transformadora: ajuda a compreender comportamentos herdados, fortalece a identidade e devolve sentido a fragmentos de si mesmo.

Do ponto de vista psicológico, esse reconhecimento atua como recurso terapêutico. Ao perceber-se parte de uma linhagem, o indivíduo compreende que não é apenas fruto de escolhas pessoais, mas também de trajetórias coletivas. Essa consciência amplia o senso de pertencimento, reduz a solidão existencial e abre espaço para uma reconciliação com a própria história.

A motivação para essa busca é múltipla: pode nascer do desejo de conhecer raízes étnicas, do fascínio pelas semelhanças familiares, ou mesmo da tentativa de preencher lacunas deixadas por guerras, migrações ou perdas. Em qualquer caso, olhar para trás é também resgatar humanidade e reconstruir identidades que, em muitos contextos, foram fragmentadas por processos de colonização, racismo ou exclusão social.

O livro A História Secreta da Raça Humana nos mostra que a ancestralidade não se reduz à genealogia imediata. Ele desafia modelos tradicionais de evolução e sugere que os humanos podem ter habitado a Terra em épocas muito mais antigas do que se admite.

Mais do que uma polêmica científica, essa perspectiva nos convida a reconhecer que a narrativa da ancestralidade é também uma construção simbólica.

Arqueologia, mitos e relatos esquecidos revelam que nossa identidade é feita não apenas de genes, mas também de memórias culturais e espirituais. A ancestralidade, nesse sentido, abarca não apenas os avós conhecidos, mas uma herança humana mais vasta, que atravessa civilizações, continentes e eras.

Cada ser humano é herdeiro não apenas de uma família, mas de uma história cósmica e coletiva, que amplia a percepção de pertencimento e nos coloca em diálogo com a humanidade inteira.

A ancestralidade, muitas vezes entendida como herança coletiva, não se limita a tradições, valores e narrativas transmitidas ao longo de gerações. Ela também se entrelaça de maneira íntima com a experiência singular de cada sujeito. É nesse ponto que a Psicologia encontra um campo fértil de reflexão: como a história herdada dialoga com o modo particular de cada indivíduo existir no mundo?

A tese da mestra e doutora em Psicologia Gisella Mouta Fadda (O Enigma do Autismo), ao investigar adultos diagnosticados como autistas, trouxe contribuições preciosas para esse entendimento. Por meio de uma abordagem fenomenológica, a pesquisa revelou que a vivência da identidade em pessoas autistas se organiza em torno de alguns elementos estruturais:

• a abertura ao encontro com o outro, que permite confirmar a si mesmo;

• a intensidade do corpo vivido, muitas vezes extenuante, que imprime um modo peculiar de habitar o mundo;

• a percepção do passado como presença constante, onde as experiências anteriores não se tornam distantes, mas continuam a pulsar no presente como parte inseparável da existência.

Esses achados ampliam a compreensão de ancestralidade, pois mostram que não herdamos apenas genes e histórias familiares, mas também modos de ser que se atualizam no cotidiano. Cada indivíduo, ao receber esse legado coletivo, o ressignifica a partir de sua própria experiência subjetiva. Assim, a ancestralidade deixa de ser uma linha reta que vem do passado e passa a ser uma teia de camadas, entrelaçada entre memória coletiva e vivência pessoal.

No caso das pessoas autistas, essa integração se torna ainda mais visível: a herança transgeracional - feita de padrões, símbolos e histórias - encontra uma forma singular de expressão no modo como percebem e interpretam o mundo. Essa singularidade não rompe com a ancestralidade; ao contrário, ela a recria em novas linguagens, lembrando-nos de que cada sujeito é, ao mesmo tempo, continuidade e novidade.

Em última instância, isso vale para todos nós. A história pessoal, com suas marcas únicas, conecta-se ao fluxo maior da memória herdada, compondo uma rede complexa de significados que sustenta a existência humana. Reconhecer essa articulação é compreender que a ancestralidade não é apenas aquilo que recebemos, mas também aquilo que, a partir de nossa vivência, entregamos de volta ao mundo como contribuição às gerações futuras.

Olhar para a ancestralidade através da Psicologia é mais do que resgatar o passado: é criar pontes para o futuro. Ao registrar narrativas, valorizar tradições e compreender padrões herdados, deixamos às próximas gerações a possibilidade de uma conexão mais consciente com suas origens.

Em uma sociedade marcada pela globalização e pelo desenraizamento, a reconexão com raízes familiares e culturais pode atuar como um gesto de cura, resistência e autovalorização. A Psicologia Humanista, Existencial e Fenomenológica recorda que o desejo de pertencimento é constitutivo do ser humano. Reconhecer e celebrar a ancestralidade é afirmar que cada vida faz parte de uma história maior, que transcende o indivíduo, mas que nele encontra continuidade.

Por fim, a ancestralidade e a Psicologia se encontram no ponto em que identidade, história e experiência convergem. Enquanto a ancestralidade oferece raízes e pertencimento, a Psicologia fornece instrumentos para elaborar essas heranças no plano subjetivo.

Honrar as histórias que nos antecederam, questionar narrativas oficiais e acolher singularidades de cada existência são caminhos de autoconhecimento e libertação. Ao integrar passado, presente e futuro, reconhecemos que nossas vidas são fios de uma trama muito maior. E, ao honrar nossas raízes, não apenas preservamos a memória, mas semeamos futuros possíveis.

Um abraço,

Paulo C. T. Ribeiro

• Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.

• Psicólogo Orientador Parental

• Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.

• Escritor.

• Contatos: www.psipaulocesar.psc.br



PAIS DE CRIANÇAS ATÍPICAS

A dedicação dos pais é um fator importante para o desenvolvimento psicoemocional e desenvolvimento infantil. 


 

ADULTOS EM TERAPIA: REFLEXÕES SOBRE EXISTÊNCIA E PSICOTERAPIA


Um livro de cabeceira prá quem gosta de Psicologia: ADULTOS EM TERAPIA - Reflexões Sobre Existência e Psicoterapia. uma obra que une sensibilidade, reflexão e profundidade simbólica: 

Um mergulho afetuoso e lúcido nos dilemas emocionais da vida adulta: ansiedade, culpa, relações, sexualidade e feridas da infância sob a luz acolhedora da psicoterapia humanista.

Disponível na Amazon Kindle: https://www.amazon.com.br/dp/B0FCCBMLHW

E-Book Kindle Unlimited: R$ 0,00

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Livro impresso: tratar pelo WhatsApp 11981995612 com o autor. R$ 100 00.

Envio grátis a todo o Brasil.

QUANDO AMAR JÁ NÃO BASTA, MAS O SOFRIMENTO TAMBÉM NÃO PODE CONTINUAR

Há relações que começam com promessas de eternidade, mas que se perdem no caminho —não por falta de amor, mas por excesso de dor. Relações onde os gestos de carinho foram substituídos por respostas ásperas, onde a cumplicidade cedeu lugar à disputa, onde a intimidade virou território hostil. E o mais doloroso: muitas dessas relações continuam. Continuam por medo por hábito ou por culpa. Continuam por apego à ideia do que um dia foi, ou à esperança de que um dia volte a ser. Mas há um momento em que é preciso olhar no espelho e fazer uma pergunta corajosa: estamos vivendo juntos ou sobrevivendo lado a lado?

O fim de um amor não começa com a ausência. Começa com o excesso de críticas, de gritos, de mágoas não ditas. Começa quando o tom da voz vira arma, quando o toque físico desaparece, quando o olhar foge. Começa no dia em que você sente que precisa se proteger da pessoa com quem deveria se sentir mais seguro.

Muitas vezes, o sofrimento conjugal não vem de grandes tragédias, mas de pequenas violências diárias: a agressividade verbal que se tornou normal, a forma grosseira de se expressar, como se falar com amor fosse fraqueza, a incapacidade de escutar sem interromper, desprezo silencioso que congela qualquer tentativa de aproximação ou a desvalorização da história familiar do outro, como se amar alguém fosse possível sem acolher minimamente de onde ele veio. É assim que o amor se desgasta: não por falta de sentimento, mas por falta de cuidado.

Quando o parceiro se torna o inimigo

Não há nada mais solitário do que dormir ao lado de alguém que virou fonte de sofrimento. Quando o lar se transforma em campo de batalha, o corpo se contrai, a alma se fecha, o afeto se esconde, e, o que era para ser amor vira um jogo de sobrevivência. Um controla, o outro resiste; um cobra, o outro se silencia; um grita, o outro se fecha. E assim, dia após dia, a relação vai morrendo em silêncio, mesmo que por fora pareça viva. Por trás desse ciclo, muitas vezes, existem feridas profundas que podem vir da infância, da relação com os pais, de traumas nunca tratados.

Alguns agem com explosividade porque aprenderam que força é sinônimo de poder. Outros se tornam frios e irônicos porque têm medo de sentir. E há ainda os que repetem padrões herdados: homens que tratam mulheres como extensão de seu ego ferido; mulheres que se anulam esperando que o amor mude quem se recusa a mudar.

Narcisismo, orgulho e ressentimento: o triângulo que destrói

Relações envenenadas pelo narcisismo são especialmente difíceis. Um dos parceiros sente necessidade constante de estar certo, de ser admirado, de controlar o outro. Não aceita crítica, interpreta desacordo como ataque, usa o amor como moeda de barganha.  Ou faz o outro se sentir culpado por existir com desejos próprios. Mas o outro lado da moeda também adoece: quem convive com esse perfil muitas vezes se torna amargo, impaciente, reativo, e ambos se tornam cúmplices de um pacto doentio - o de manter uma relação que fere, com medo de enfrentar o vazio que viria se ela acabasse. Se a isso somam-se as rejeições familiares, o desprezo pelos cunhados ou sogros, a competição velada entre sogras, a crise se agrava. A família, que deveria ser pano de fundo, vira palco de conflitos secundários que alimentam as mágoas principais.

O que sustenta uma relação viva? Penso que o respeito mútuo, a escuta sincera, a disposição para mudar e a coragem para amar com maturidade. Viver a dois é mais do que amar: é escolher cuidar. Cuidar da forma como se fala, de como se olha, de como se reage. É desistir de ter sempre razão para construir uma razão comum. É aprender a pedir desculpas mesmo sem ter certeza se está errado. É parar de apontar o dedo e começar a abrir o coração.

Relacionamentos saudáveis não são aqueles sem conflitos — são os que enfrentam os conflitos com diálogo e não com guerra. Com paciência e não com castigo. Com presença e não com chantagem.

Viver bem é uma escolha que começa no espelho

Escolher viver bem é, antes de tudo, um ato de coragem individual. É olhar para dentro e admitir: “Eu também tenho responsabilidade sobre o que está acontecendo.” É entender que não há mudança real sem autoconhecimento. É reconhecer que continuar num casamento onde há humilhação, agressão verbal ou desprezo não é prova de amor — é negação de si. Viver bem exige rupturas, nem sempre com o outro, mas com velhos padrões:

  • O padrão de reagir sempre com raiva.
  • O padrão de não dizer o que sente.
  • O padrão de repetir as dores que herdamos.

Muitas vezes, a ajuda profissional é o único caminho possível: a psicoterapia individual, por exemplo, para curar traumas, reconhecer falhas, restaurar a autoestima.

Não há vergonha alguma em admitir que não está funcionando. Vergonha é seguir fingindo que está tudo bem enquanto tudo se desfaz por dentro.

E se o amor ainda existir? Se ainda há afeto, se ainda há admiração adormecida, se ainda existe o desejo sincero de reconstruir — então vale lutar. Mas não por um amor idealizado, e sim por um amor real, que se reinventa, que aprende a conversar, aprende a perdoar e a respeitar limites.

Mas se não houver mais amor, mais escuta, mais desejo de permanecer… então talvez seja hora de aceitar que o ciclo se fechou. Separar-se com respeito pode ser mais digno do que insistir numa relação que só sobrevive por medo.

A vida é curta demais para viver mal acompanhado, todos merecem viver uma vida em que sua voz é ouvida r em que seus gestos são valorizados e o amor não dói mais do que cura.

Ninguém nasceu para viver em guerra e ninguém floresce no desrespeito. Ninguém cresce num ambiente onde precisa se esconder para não ser ferido. Se for possível transformar, transforme! Se for necessário partir, parta! Mas não se traia ou aceite uma relação que apaga sua luz, silencia sua alma e adoece seus dias. Viver bem é um direito que só se torna realidade quando vira uma escolha. E nunca é tarde para escolher.

Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro

  • Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
  • Psicólogo Orientador Parental
  • Contatos: www.psipaulocesar.psc.br  

QUANDO A POLÍTICA INVADE O AMOR

RELAÇÕES, IDEOLOGIAS E O DESAFIO DA CONEXÃO 


Sabe quando uma conversa aparentemente inocente sobre política se transforma em um silêncio pesado? Quando um comentário atravessa o peito, não por falar de economia, direitos ou costumes, mas por tocar algo íntimo - quem somos, no que acreditamos, o que esperamos da vida e do outro?

A política, muitas vezes, é apenas a superfície. Por baixo dela estão valores, histórias de vida, feridas antigas e sonhos para o futuro. Cada escolha política carrega um pouco de nós: o que aprendemos na infância, os medos que carregamos, os traumas que moldaram nossa visão de mundo e as esperanças que nos movem.

Quando duas pessoas se encontram, esses mundos internos também se encontram. Às vezes, criam um terreno comum onde o diálogo flui leve, construindo pontes. Outras vezes, colidem - e é aí que percebemos que uma divergência de ideologias pode ser muito mais do que um desacordo racional: pode tocar camadas profundas da identidade.

Imagine um casal em que uma pessoa valoriza intensamente a liberdade individual, enquanto a outra luta com igual paixão pela igualdade social. Na superfície, parece apenas um embate sobre modelos políticos. Mas, em profundidade, fala sobre pertencimento, segurança e significado. Para um, sentir-se livre é prioridade; para o outro, garantir que ninguém seja deixado para trás é essencial. Não há “certo” ou “errado” nesse cenário - são formas diferentes de buscar paz. Porém, quando defendemos algo vital para nossa identidade, qualquer discordância pode soar como rejeição. Não rejeição da ideia, mas de quem somos. E, quando isso acontece, o que parecia uma discussão sobre política se transforma numa defesa da própria essência.

As redes sociais trouxeram novas camadas de complexidade. Um simples “curtir” pode ser interpretado como uma declaração pública de valores. Uma postagem vira gatilho. Amigos, família ou grupos próximos reforçam crenças diferentes e, de repente, sentimos a pressão de escolher lados. O ambiente digital nos expõe constantemente, criando uma vitrine onde cada gesto pode ser interpretado como posicionamento político - e essa exposição pode desgastar os vínculos. Não se trata apenas de opiniões: o que está em jogo, muitas vezes, é o pertencimento, a necessidade de se sentir visto, aceito e respeitado por quem amamos.

Há uma camada ainda mais sutil: a escolha do parceiro também pode refletir partes inconscientes de nós mesmos. Um parceiro mais progressista pode simbolizar a liberdade que alguém aprendeu a reprimir. Já um parceiro mais conservador pode representar a estabilidade que falta na própria história.

Quando  brigamos  sobre política,  talvez  estejamos  brigando  com partes nossas que

projetamos no outro. Ele se torna um espelho dos nossos próprios conflitos internos. Na terapia, essa percepção pode ser transformadora: entender o que aquela diferença desperta dentro de nós pode abrir espaço para diálogos mais honestos e menos defensivos.

Muitos casais aprendem a “dançar” com as diferenças. Criam pontes, estabelecem diálogos respeitosos, reconhecem que pensar diferente não significa amar menos. Descobrem que o segredo não está em convencer o outro, mas em ouvir, compreender e sustentar o vínculo apesar dos contrastes. Por outro lado, há quem perceba que o abismo é grande demais. Quando valores fundamentais - como ética, liberdade, crenças religiosas ou educação dos filhos - se chocam de forma irreconciliável, pode ser necessário admitir limites. Não significa fracasso; significa maturidade para reconhecer quando projetos de vida seguem caminhos distintos. Nesses casos, a terapia de casal pode ser um espaço valioso, ajudando não apenas a decidir juntos o que fazer, mas a atravessar o processo com menos dor, mais clareza e respeito.

Perguntas que Valem a Reflexão:

  • O que, para mim, é realmente inegociável?
  • O que me incomoda na visão do outro: a ideia em si ou o que ela desperta dentro de mim?
  • Como posso ouvir sem precisar convencer?
  • Quais sonhos compartilhamos que podem ser maiores do que nossas diferenças?

Essas perguntas não trazem respostas prontas, mas criam um espaço de diálogo mais profundo - primeiro conosco mesmos e, depois, com o outro.

No fim, o amor não pede uniformidade de pensamento. Ele pede respeito, escuta e empatia. Pede que possamos enxergar no outro alguém inteiro, com razões, dores e esperanças próprias.

Ideologias mudam. Contextos históricos se transformam. Mas a qualidade do vínculo que construímos - se baseada em presença, cuidado e acolhimento - pode permanecer.

Talvez a pergunta mais importante não seja “De que lado você está?”, mas “Que vida queremos construir juntos, apesar das diferenças?”. Se conseguirmos responder a essa pergunta com sinceridade, descobriremos que, antes de sermos de direita ou de esquerda, somos, acima de tudo, seres humanos em busca de conexão, pertencimento e amor.

Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro

  • Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
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O DESAFIO DE SER TRANSPARENTE: A CORAGEM DE SER VISTO

 "Transparência não é mostrar tudo o que somos, mas permitir que a luz atravesse o suficiente para que possamos respirar fora das nossas próprias sombras."

Fala-se muito em ser transparente, como se bastasse dizer o que pensa, expressar o que sente e se mostrar tal como é. Mas, para muitas pessoas, esse não é um gesto natural. A transparência pode despertar insegurança, medo e até pânico. Na maior parte das vezes, trata-se de um modo de ser moldado por experiências marcantes, cicatrizes emocionais e estratégias de sobrevivência que se perpetuam ao longo da vida.

Viver sem se mostrar por inteiro é como habitar atrás de um vidro fumê: os outros percebem sua presença, ouvem sua voz, acompanham seus movimentos, mas não têm acesso ao que acontece dentro de você. Essa barreira, invisível mas eficaz, raramente é fruto do acaso. Pode ter surgido numa infância em que falar de si significava abrir-se ao julgamento ou ao ridículo; pode ter sido reforçada por relações em que a vulnerabilidade foi punida com abandono ou traição; ou aprendida em famílias que viam a expressão emocional como fraqueza, incentivando, direta ou indiretamente, a contenção.

Nessas circunstâncias, esconder-se não é um vício, mas um recurso. Serve para proteger a imagem, evitar conflitos e impedir que outros toquem em feridas antigas. Essa reserva pode trazer até uma sensação de poder: decidir o que o outro sabe, o que permanece segredo e qual distância se mantém nas relações. O problema é que, quando essa proteção se torna permanente, ela cobra um preço alto. O vidro que protege também isola: impede a entrada da luz, empobrece a troca afetiva e fragiliza os vínculos. Relações profundas dependem de entrega; sem ela, a vida relacional se mantém na superfície e não sustenta nos momentos de crise. Surge então uma solidão paradoxal: estar acompanhado e, ao mesmo tempo, permanecer invisível.

Superar a opacidade exige muito mais que uma decisão racional. É um processo que começa com a disposição para olhar para si mesmo sem disfarces, identificando quando e como as barreiras se formaram. Esse mapeamento não serve para culpar o passado, mas para compreender que a proteção de ontem pode ser a prisão de hoje. O passo seguinte é aprender a dosar a abertura. Transparência não é exposição indiscriminada; é revelar partes verdadeiras de si, com consciência sobre o contexto e sobre as pessoas envolvidas. Esse discernimento impede que o ato de se mostrar gere novas feridas.

Também é preciso desenvolver tolerância à vulnerabilidade. Mostrar-se significa aceitar que o outro pode não reagir como gostaríamos. Essa tolerância nasce quando entendemos que uma reação negativa não define nosso valor. Aqui, a paciência é indispensável: o hábito de se proteger levou anos para se consolidar, e abandoná-lo exige tempo, pequenas experiências de sucesso e repetição.

Praticar a escuta e a reciprocidade é igualmente essencial. Quanto mais genuinamente ouvimos e acolhemos os outros, mais natural se torna oferecer o mesmo de nós. Relações transparentes são sempre uma via de mão dupla: a abertura de um estimula a abertura do outro.

Para sustentar a transparência de forma saudável, algumas habilidades emocionais precisam ser cultivadas. Habilidades como autoconsciência (perceber e nomear emoções, reconhecer reações automáticas e identificar gatilhos que provocam o fechamento, autocompaixão (tratar-se com gentileza ao lidar com medos e erros, evitando o julgamento interno severo que paralisa, resiliência relacional (suportar desconfortos e frustrações sem recuar para o isolamento à primeira dificuldade) e clareza comunicativa (expressar pensamentos e sentimentos de forma direta e respeitosa, sem defesas excessivas nem agressividade).

Acontece que romper o padrão implica também abrir mão de hábitos e crenças que sustentam a armadura, tais como a ilusão de controle absoluto sobre como os outros nos percebem, o medo constante de julgamento, que transforma qualquer interação em ameaça, o perfeccionismo relacional, que exige respostas ideais antes de se abrir e a c crença de que a proteção emocional precisa ser total, quando, na verdade, ela pode ser flexível e seletiva.

A mudança costuma começar em espaços protegidos. Pode ser com alguém que já tenha demonstrado cuidado genuíno ou, de forma estruturada, no contexto da psicoterapia. A relação terapêutica oferece um território seguro para experimentar novas formas de se mostrar, receber validação e aprender a sustentar a vulnerabilidade. Aos poucos, a barreira perde densidade e o que antes era medo se converte em liberdade.

Ser transparente exige coragem porque implica abrir mão da armadura que, por anos, foi sinônimo de segurança. É aceitar que a vulnerabilidade não enfraquece — ela humaniza. Ao assumir esse risco, descobre-se que a autenticidade é mais sólida do que qualquer defesa. No fim, a transparência não é apenas permitir que o outro nos veja; é, sobretudo, a chance de nos enxergarmos por inteiro. E, quando isso acontece, algo dentro de nós finalmente respira.

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Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro

  • Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
  • Psicólogo Orientador Parental
  • Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.

PROCRASTINAÇÃO: QUANDO ADIAR SE TORNA UM PESO SILENCIOSO

Adiar o que se precisa fazer é algo que, em algum grau, todos já experimentamos. Quem nunca deixou uma tarefa importante para depois, mesmo sabendo que aquilo traria mais desconforto do que alívio?

O curioso é que, apesar de parecer inofensiva, a procrastinação raramente é apenas uma questão de organização ou disciplina. Ela tem raízes mais profundas, afetivas e subjetivas, e pode se tornar um peso silencioso que corrói por dentro.

É comum associar o ato de procrastinar à preguiça ou falta de força de vontade. Mas, na verdade, a procrastinação frequentemente funciona como um mecanismo de defesa: ela nos protege, de forma disfarçada, de algo que nos gera ansiedade, frustração ou medo. Muitas vezes, o que está em jogo não é a tarefa em si, mas o que ela simboliza emocionalmente. Por trás da hesitação, pode haver o medo de fracassar, o receio de ser julgado, a sensação de não estar à altura, ou até mesmo uma forma inconsciente de rebeldia diante de exigências externas. Outras vezes, há uma sensação de vazio e desconexão — como se aquilo que se está adiando simplesmente não fizesse sentido algum.

Procrastinar, então, não é um ato de desleixo, mas de conflito interno. E ele se expressa em pequenos gestos cotidianos: uma gaveta organizada em vez de um relatório iniciado, uma maratona de vídeos no lugar de um compromisso enfrentado, uma sequência de desculpas mentais que, no fundo, só revelam o quanto a pessoa está em sofrimento. Quando isso se torna hábito, o impacto emocional é devastador.

A procrastinação constante alimenta a culpa, fragiliza a autoestima, gera ansiedade e enfraquece a confiança em si mesmo. A pessoa passa a duvidar da própria capacidade de realizar, de sustentar compromissos, de se mover na direção do que deseja — e, com o tempo, começa a se identificar com esse sentimento de incapacidade.

O ciclo é cruel: quanto mais se adia, maior a tensão, maior a autocrítica, maior o mal-estar. E quanto mais intensa essa espiral, mais difícil se torna romper com ela. O tempo parece escapar entre os dedos e, junto dele, escapa também a sensação de autonomia, de autoria sobre a própria vida.

Do ponto de vista psicológico, a procrastinação revela muito sobre a relação que cada um tem com o erro, com o julgamento, com a imagem que deseja manter diante de si mesmo e dos outros. Muitas pessoas que procrastinam excessivamente são, na verdade, muito exigentes consigo mesmas. Têm padrões de perfeição tão altos que não conseguem sequer começar uma tarefa, pois sabem que dificilmente ela sairá como idealizaram. Outras carregam feridas antigas — críticas parentais, fracassos escolares, comparações dolorosas — que as fizeram acreditar que é melhor não tentar do que tentar e não conseguir.

Por isso, a superação da procrastinação não passa apenas por técnicas de produtividade ou agendas bem planejadas. Essas ferramentas podem ser úteis, claro, mas sozinhas não alcançam o cerne da questão.

O processo mais profundo envolve acolher as emoções que estão por trás do adiamento. É necessário reconhecer o medo de errar, de decepcionar, de não ser aceito. É preciso confrontar a vergonha, abrir espaço para a vulnerabilidade, trabalhar a autocompaixão. E, acima de tudo, é importante resgatar o valor da ação imperfeita: começar, mesmo com dúvidas; fazer, mesmo sem inspiração; caminhar, mesmo que devagar.

Há um ponto de virada no tratamento da procrastinação que começa quando o sujeito compreende que não precisa esperar motivação para agir. A motivação, muitas vezes, nasce da ação — e não o contrário. Um pequeno movimento já é suficiente para interromper o ciclo, quebrar a rigidez da espera, reconectar-se com o presente. Nesse processo, o papel da psicoterapia é fundamental. Um espaço terapêutico acolhedor e livre de julgamentos permite que a pessoa compreenda seus bloqueios sem culpa, reformule suas crenças limitantes, reconheça seus potenciais adormecidos e se reencontre com sua própria capacidade de escolha.

Procrastinar é humano. Mas viver em constante adiamento é uma forma silenciosa de se abandonar. E ninguém merece viver assim. O tempo não para — mas nós podemos parar por um instante, olhar com mais cuidado para o que temos evitado, e dar um primeiro passo. Talvez ele não leve imediatamente ao destino final, mas certamente nos afasta da inércia. E isso já é uma forma de libertação.

Se esse texto lhe tocou, talvez esteja na hora de se olhar com mais carinho. A procrastinação, quando acolhida com consciência, pode se tornar uma oportunidade de reencontro com o sentido da ação e com o valor de ser quem se é — mesmo imperfeito, mesmo inseguro, mesmo em processo.

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Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro

  • Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
  • Psicólogo Orientador Parental
  • Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.
  • Extensão e Certificação em Filosofia & Meditação (PUCRS), Certificação em Racismo e Psicanálise (Achille Mbembe), Pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo (Famart) e Psicologia Clínica (PUCRS).
  • Associado à ABRAP, SBRA e ABRA.
  • Colaborador do HSPMAIS – Saúde Suplementar e de Apoio à Pesquisa Clínica (Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina).
  • Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
  • Contatos: www.psipaulocesar.psc.br

TUDO COMEÇA NO PENSAMENTO

Toda mudança externa começa, de forma silenciosa, no interior do ser humano. Na raiz de nossas escolhas, comportamentos e conquistas, está o modo como pensamos — e, mais profundamente, a maneira como interpretamos a nós mesmos, aos outros e ao mundo. A compreensão da relação de causa e efeito sobre o pensamento é, portanto, essencial para quem busca crescer não apenas no âmbito pessoal, mas também no profissional.

O autoconhecimento é o ponto de partida desse processo. Conhecer-se implica reconhecer os padrões mentais que moldam nossas crenças mais íntimas. Muitas vezes, funcionamos no "piloto automático", repetindo velhas formas de interpretar a vida, sem perceber que essas interpretações criam expectativas limitantes. Só ao trazer consciência a esses padrões é que podemos reconfigurá-los de maneira consciente.

Quando você muda seu modo de pensar, mudam suas crenças.
O modo como pensamos determina o que acreditamos ser verdade. Se cultivamos pensamentos de incapacidade, desvalorização ou medo, criamos crenças que restringem nosso potencial. Por outro lado, pensamentos de confiança, possibilidades e responsabilidade constroem crenças fortalecedoras. A revisão consciente de nossos pensamentos é, assim, uma verdadeira reconstrução de nosso universo interno.

Quando você muda suas crenças, mudam suas expectativas.
Crenças são como lentes através das quais enxergamos o que é possível. Quando acreditamos que algo é alcançável, nossas expectativas se expandem. Passamos a esperar mais de nós mesmos, das circunstâncias e dos outros. Mudanças nas crenças abrem o horizonte do que visualizamos como possível e, consequentemente, do que nos preparamos para realizar.

Quando você muda suas expectativas, muda sua atitude.
Expectativas ampliadas geram atitudes mais proativas. Deixamos de agir com medo e hesitação e começamos a agir com esperança, determinação e clareza de propósito. A atitude deixa de ser defensiva e passa a ser construtiva, dinâmica e voltada para o crescimento.

Quando você muda sua atitude, muda seu comportamento.
As atitudes se manifestam na prática. Um pensamento mais lúcido e crenças fortalecedoras conduzem a comportamentos mais eficazes. Deixamos de procrastinar, cultivamos hábitos mais saudáveis, desenvolvemos maior perseverança e inteligência emocional. O comportamento deixa de ser uma reação automática às circunstâncias e passa a ser uma ação consciente alinhada a objetivos mais elevados.

Quando você muda seu comportamento, muda seu desempenho.
Mudanças consistentes de comportamento se traduzem em melhorias concretas de desempenho. Seja nos estudos, no trabalho, nas relações interpessoais ou nos projetos de vida, a excelência não nasce do acaso, mas da transformação interna que se reflete na prática diária.

Quando você muda seu desempenho, você muda a sua vida.
A vida não muda porque as circunstâncias exteriores, por si só, se alteram. A mudança verdadeira é resultado da transformação interna que, passo a passo, altera as experiências que vivemos. Desempenhos mais elevados trazem novas oportunidades, abrem portas, aproximam-nos de pessoas inspiradoras e criam realidades mais satisfatórias.

O Poder do Autoconhecimento no Desenvolvimento Profissional

No ambiente profissional, essa dinâmica é ainda mais evidente. Profissionais que desenvolvem autoconhecimento não apenas aprimoram suas habilidades técnicas; eles elevam sua inteligência emocional, sua capacidade de liderança, sua empatia e sua habilidade de resolução de problemas. Eles se tornam agentes ativos de sua própria evolução, moldando a carreira de acordo com seus valores e aspirações.

Ao entender a cadeia de transformação que parte do pensamento e se desdobra até a realidade concreta, o profissional deixa de ser refém de fatores externos. Torna-se protagonista de sua trajetória, capaz de aprender com os erros, adaptar-se às mudanças e buscar crescimento contínuo.

A transformação pessoal e profissional não é fruto de fórmulas mágicas ou mudanças superficiais. Ela nasce da profunda tomada de consciência sobre como nossos pensamentos moldam nossa vida. Mudar o pensamento é plantar novas sementes. Cuidar dessas sementes — por meio do autoconhecimento, da reflexão e da prática consistente — é garantir que os frutos, mais cedo ou mais tarde, sejam colhidos.

A grande revolução é silenciosa: ela começa na mente, floresce na atitude, transforma o comportamento, aprimora o desempenho e, finalmente, renova a vida.

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Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro

Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
Psicólogo clínico orientador parental
Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.
Extensão e Certificação em Filosofia & Meditação (PUCRS), Certificação em Racismo e Psicanálise (Achille Mbembe), Pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo (Famart) e Psicologia Clínica (PUCRS).
Associado à ABRAP, SBRA e ABRA (Psicoterapia e Reprodução Assistida).
Colaborador do HSPMAIS – Saúde Suplementar e de Apoio à Pesquisa Clínica (Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina).
Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.


ANORGASMIA: UM OLHAR PSICOTERAPÊUTICO SOBRE A DIFICULDADE DE ALCANÇAR O ORGASMO

Sob a perspectiva da psicoterapia, essa condição transcende a mera questão física, revelando complexas interações entre fatores emocionais, psicológicos e relacionais. A anorgasmia é um transtorno caracterizado pela dificuldade ou incapacidade persistente de atingir o orgasmo, apesar da presença de estímulo sexual adequado; Esse quadro pode afetar tanto homens quanto mulheres, embora seja mais comum no público feminino. Sob a ótica da psicoterapia, a anorgasmia não é apenas uma questão fisiológica, mas frequentemente reflete aspectos emocionais, psicológicos e relacionais que interferem na vivência plena da sexualidade.

A anorgasmia pode afetar qualquer pessoa, independentemente de idade, gênero ou orientação sexual. No entanto, é mais comum em mulheres devido a fatores socioculturais que, historicamente, reprimiram a vivência do prazer feminino. Nos homens, é menos frequente, mas pode ocorrer devido ao uso excessivo de pornografia, consumo de substâncias psicoativas, uso de determinados medicamentos antidepressivos e fatores psicológicos semelhantes aos que afetam as mulheres. Além disso, para ambos, a falta de conhecimento sobre o próprio corpo e suas respostas sexuais pode contribuir para o problema.

Em minha vida profissional, atendi psicoterapicamente mulheres, pessoas com histórico de trauma (como abuso sexual ou emocional), indivíduos com problemas de saúde mental (depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático), pessoas com dificuldades de relacionamento (problemas de comunicação, intimidade e confiança no relacionamento), indivíduos com questões de autoimagem (baixa autoestima e insatisfação com o próprio corpo). Todos esses de diferentes idades, gênero ou orientação sexual.

Diversas são as causas da anorgasmia, envolvendo aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentre os fatores psicológicos mais comuns, destacam-se:

Psicológicas: Ansiedade de desempenho, medo do julgamento, culpa, repressão sexual, crenças negativas/limitantes sobre o sexo, falta de autoconhecimento sexual, baixa autoestima, sentimentos de inadequação e vergonha do próprio corpo.

Emocionais: Estresse, depressão, ansiedade, traumas passados como abusos e educação sexual repressora, dificuldades de relacionamento, sexo selvagem e problemas de intimidade.

Relacionais: Falta de comunicação com o parceiro, problemas de confiança, conflitos não resolvidos e insatisfação com o relacionamento.

Conflitos no relacionamento: Problemas conjugais, falta de comunicação e intimidade emocional reduzem o desejo e a resposta sexual.

Médicas: Alguns medicamentos, condições médicas e alterações hormonais podem afetar a função sexual e levar à anorgasmia.

A psicoterapia desempenha um excelente papel no tratamento da anorgasmia oferecendo um espaço seguro e acolhedor para explorar as causas da anorgasmia e ajudar a pessoa a compreender e superar as barreiras que dificultam a resposta sexual. As abordagens mais frequentes combinam a psicoterapia com técnicas de relaxamento e, conforme o caso, exercícios de exploração corporal. O psicólogo ajuda, então, a compreender a situação do paciente, seus sintomas bem como a focar no presente e aumentar a percepção do próprio corpo.

A anorgasmia, embora seja uma condição complexa, tem tratamento eficaz quando abordada de maneira holística. A psicoterapia oferece um caminho para ressignificar a relação com o prazer, promovendo uma vivência sexual mais saudável e satisfatória a indivíduos e casais. Buscar ajuda profissional é um passo essencial para quem deseja superar essa dificuldade e redescobrir a sexualidade de forma plena e natural.

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Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro

Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
Psicólogo clínico orientador parental
Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.
Extensão e Certificação em Filosofia & Meditação (PUCRS), Certificação em Racismo e Psicanálise (Achille Mbembe), Pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo (Famart) e Psicologia Clínica (PUCRS).
Associado à ABRAP, SBRA e ABRA (Psicoterapia e Reprodução Assistida).
Colaborador do HSPMAIS – Saúde Suplementar e de Apoio à Pesquisa Clínica (Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina).
Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.