O que há de inevitável na vida apresenta-se ao homem principalmente sob três aspectos, de acordo com suas disposições orgânicas, suas condições nas situações externas concretas e sua atitude (posição) perante as duas primeiras. As disposições representam o destino biológico do homem e a condição representa o seu destino sociológico. Adicione-se a isso o destino psicológico, do qual faz parte aquela atitude que, por não ser livre, não constitui ainda uma livre tomada de posição.
O destino, como conceito geral, pertence ao homem como o chão que o agarra pela força da gravidade. Esse chão deve ser o trampolim de onde nos cumpre saltar para a liberdade. Mas a liberdade só pode ser liberdade em face de um destino, isto é, um livre comportar-se perante o destino. Assim, se quiséssemos definir o homem, teríamos que caracterizá-lo como o ser que se vai libertando daquilo que o determina (biológica, sociológica e psicologicamente), quer dizer, como o ser que transcende todas estas determinações, dominando-as ou configurando-as, apesar delas depender.
O Destino Biológico: Nos casos em que o ser humano defronta-se com o destino biológico, logo nos surgirá o problema de saber até onde chega sua liberdade face ao acontecer orgânico. Desta maneira aproximamo-nos da problemática psicofísica, sem contudo nos introduzirmos na interminável discussão sobre a questão de saber em que medida o organismo físico do homem depende do anímico-espiritual e vice-versa. O confronto entre o “poder do espírito” e o “poder da natureza” não é produtivo, visto ambos fazerem parte do indivíduo, dependendo sempre um do outro. O homem é cidadão de vários reinos, estando na sua vida numa tensão, num constante campo de forças, numa eterna luta entre sua liberdade e seu destino interior e exterior. Os limites do livre “poder-ser” estão infinitamente longe em face do “ter-querer” fatal.
Conhecemos inúmeros casos de pessoas que, de modo exemplar, conseguiram superar as restrições e limitações iniciais, postas à liberdade pelo fator biológico, isto é, as dificuldades que, a princípio, se opunham ao desenvolvimento do seu espírito. Sua forma de vida definitiva faz lembrar uma realização artística, na medida em que a rebelde matéria biológica se foi deixando modelar. O destino biológico é para a liberdade humana, puro material a configurar. A pessoa lhe dá sentido ao integrá-lo na estrutura histórica e biográfica da sua vida.
O Destino Psicológico: Fraqueza de vontade por nascimento é coisa que não existe. A força de vontade, inerente ao ser humano, não é estática, se apresenta em cada caso como função de vários fatores, a saber: conhecimento claro dos objetivos, decisão consciente e um certo treino. Enquanto um homem cometer o erro de, mesmo antes de tentar algo, cismar no inevitável malogro da tentativa, é claro que as tentativas não surtirão efeito.
Os neuróticos pendem, no aspecto psicológico, para uma fé cega no destino, e, ao referirem-se a ele, invocam constantemente a inexorabilidade das suas tendências instintivas, da força dos impulsos, das fraquezas da vontade e do caráter. Parecem dominados pela fórmula fatalista: “A vida é assim mesmo”, ou “Assim tinha que ser”. Vejamos a resposta inesperada e sábia de uma paciente esquizofrênica, quando perguntada se tinha força de vontade: “quando quero, tenho e quando não quero, não tenho!”. Este exemplo faz-nos pensar que o ser humano propende a dissimular a seus olhos o seu próprio livre-arbítrio escondendo-o por trás duma suposta fraqueza de vontade. Tomam tais fraquezas como simplesmente dadas, em vez de nelas virem uma tarefa de complementação de auto-educação.
Por outro lado, o fatalismo neurótico significa uma fuga à responsabilidade com que oneram os homens e sua própria irrepetibilidade e o seu “caráter de algo único”. A atitude frente a vida de um homem tem, portanto, certa margem de liberdade de movimento em face do que há nela, não apenas de físico, mas também de anímico, e nem de longe ele tem que se submeter cegamente ao seu destino psicológico.
O Destino Sociológico: Por toda parte o indivíduo nos surge incrustado na estrutura social. A comunidade determina-o sob dois pontos de vista: por um lado, o organismo social como um todo condiciona-o, por outro, e simultaneamente, o indivíduo é orientado para se ajustar ao referido organismo.
As chamadas leis sociológicas nunca determinam inteiramente o indivíduo, de modo algum o despojando do seu livre-arbítrio. Antes de influenciarem o indivíduo no seu comportamento, tem que passar, digamos, por uma zona de liberdade individual.
O ponto de vista segundo o qual só é valioso o que acarreta algum proveito à comunidade, é insustentável. Conduziria a existência humana a um empobrecimento de valores. Com efeito, há reservas individuais, ou seja, valores, cuja realização pode, e até deve, levar-se a cabo além e independemente de toda e qualquer comunidade humana. Alguns valores vivenciais não podem reclamar o padrão útil para a comunidade, como os ligados a experiências artísticas individuais, estéticas ou vivências da natureza. Não nos esqueçamos, porém, que também existem valores vivenciais ligados diretamente à vivência comunitária mais ampla como na amizade, na solidariedade ou até mesmo no relacionamento amoroso entre duas pessoal. Assim, o homem conserva, também em face do destino social, certa margem de livre possibilidade de decisão, tal como perante o destino biológico ou psicológico.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
- Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
- Psicólogo de linha humanista existencial com acentuada orientação junguiana, budista e pós-graduações em Sexualidade Humana, Psicologia Clínica e Autismo.
- Voluntário no Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina.
- Psicólogo colaborador da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva.
- Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
- Consultório próximo à estação de metrô Vila Mariana em São Paulo, SP.
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