O
clima no Brasil está muito “intenso”, razão suficiente para fazer uma reflexão
a respeito. Por que tantas pessoas desenvolvem conexões emocionais tão fortes
com políticos, celebridades e outras figuras públicas?
Inicialmente
devemos entender que as pessoas têm uma necessidade inata de buscar conexões,
se encaixar numa hierarquia social e criar sua "comunidade idealizada"
com seus líderes e fãs. Ou seja, quando procuramos por eles, procuramos por conexões, porém
muitos se esquecem que é preciso ter cuidado para não se tornarem fãs demais.
Quero dizer, que o perigo é tornar-se fanático, o que pode ser descrito
por duas características básicas: a absorção da individualidade na ideologia
coletiva e o desprezo pela individualidade alheia. Considere “individualidade” como
a combinação única de fatores que faz de cada pessoa um ser único e
insubstituível. Quanto mais diferentes, menos as pessoas podem ser reduzidas a
traços gerais e mais exigem a compreensão do seu jeito pessoal. Isso implica em
dizer que só de maneira parcial e deficiente é que a personalidade criadora se
enquadra em categorias gerais como “estilo de época”, “ideologia de classe”,
etc., algo que os estudiosos sociais inventaram para falar de médias humanas
indistintas, mas que o medíocre insiste em aplicar como camisas de força a tudo
o que vá além da média. Veja que em insistir, já há a evidência, de forma
disfarçada, do fanatismo ao qual me refiro.
O
fanatismo traz à sociedade uma espécie de recorte das individualidades baseando-se
numa mediocridade-padrão. Adeptos fanáticos de políticos ou de partidos, por
exemplo, acabam limitando o papel dos demais, agindo, portanto, como se fossem
verdadeiros gênios da mediocridade e codificadores do fanatismo. Não considere fanatismo
apenas na interpretação comum da exaltação frenética. O verdadeiro fanatismo, manifesta-se
sereno e moderadamente, sem a necessidade de ser irritadiço, nervoso ou raivoso.
Apenas, ele está tão afinado com a ideologia coletiva que ela basta como canal
para a expressão de seus sentimentos, vivências e aspirações.
De
fato, não há como não notar que, de uns tempos para cá, as pessoas estão
manifestando opiniões cada vez mais radicais, seja sobre política, sexualidade,
direitos humanos, religião, etc. Traduzindo: os casos de fanatismo vêm ganhando
proeminência. As redes sociais parecem facilitar a divulgação desse tipo de
mensagem, que acaba encontrando eco entre outros radicais e se
retroalimentando. Trata-se de discursos cheios de extremismo, de uma obsessão
descontrolada por um conceito, um personagem ou uma pessoa, algo que, na
verdade, numa visão psicológica, acaba sendo prejudicial tanto ao fanático como
para quem convive com ele.
E o que está por trás do fanatismo? Seria uma forma de ocultar fragilidade e
insegurança? Acho importante entender as bases dessa radicalização, até mesmo
porque não se trata de um movimento exclusivo do Brasil, mas que vem ganhando
força em todas as sociedades.

Uma
outra vertente para reflexões é a seguinte: seria, o fanatismo, uma resposta à
insegurança e o medo ao julgamento dos demais, funcionando como um escudo de
proteção? Quer dizer, a pessoa se fecha em convicções “inquestionáveis” para
não ter que lidar com a sua própria fragilidade?
Em
minha opinião, os fatores promotores do fanatismo são:
- Rápidas mudanças sociais - em tecnologia, oportunidades econômicas, mudanças durante a vida, tradições, ideais, valores, expectativas, etc.
- O fato das pessoas se sentirem desconectadas do passado, assustadas no presente e sem controle do futuro.
- Competição feroz e globalização.
- Sentimento de que os outros estão adquirindo status e recursos que poderiam "ser seus".
- A ilusória sensação de conforto em pertencer a uma comunidade fechada composta por pessoas com a mesma opinião.
- Privação e desigualdade socioeconômica.
- Líderes carismáticos que, de modo confiante, fazem grandes promessas oferecendo prosperidade, segurança e estabilidade.
O
fanatismo (en passant, um fenômeno mundial) está aumentando talvez por
conta de uma superpopulação esmagadora no mundo. No Brasil, a fome, a eterna seca e a pobreza
aliam-se à migrações populacionais, à turbulência política e instabilidade social, e participam do enfraquecimento das normas culturais de consenso anteriores.
Questionamentos ideológicos que levam à dissolução dos laços familiares é uma
razão importante para o crescimento do fanatismo, assim como a crescente concentração
da riqueza e tantos outros motivos que o espaço não seria suficiente nem adequado para
discutir. Entretanto, não se pode deixar de mencionar o oportunismo de líderes
fanáticos capazes de transmitir uma mensagem
simples com poderosa convicção e constante propaganda, líderes que negam a
verdade, manipulam a realidade objetiva, distorcem fatos e criam notícias
falsas, líderes que são intolerantes à contradição e destroem a oposição, deslegitimam
e censuram visões alternativas, líderes que dividem as questões e as pessoas
nitidamente em boas e más e que criam bodes expiatórios e alvos de ódio.
Quanto ao seguidor fanático de um líder fanático, trata-se de uma pessoa que
busca uma resposta simples, proteção contra o mal imaginado, senso de
comunidade, sentir-se importante e se sentir melhor do que os
"outros", garantir direitos e recursos especiais, nesta vida ou na
próxima, redenção, vingança, etc.
O
fanatismo é uma doença como o alcoolismo. Fanatismo gera fanatismo num ciclo
vicioso retroalimentado. Fanáticos, ideólogos e absolutistas são alguns dos
flagelos da humanidade. As verdades absolutas que os fanáticos adotam podem ser religiosas ou políticas, de direita ou de esquerda,
cristãs ou islâmicas, libertárias ou comunistas, da nova era espiritual ou das
religiões antigas. Importante dizer que não é o que eles acreditam que os torna fanáticos, mas a forma como eles acreditam nisso, pensando que possuem uma palavra final e que não precisam
considerar mais evidências, não precisam se perguntar ou duvidar novamente. O
fanatismo é uma droga. Solto na sociedade é como crack ou álcool. Fanáticos
conduzem a vida como alcoólatras que acham que estão perfeitamente bem ao
volante, mas que matam pessoas inocentes, às vezes coletivamente. Porém, sabemos
que viver em conflito é viver em tormento, e esse tormento tem a função de
curar, assim como uma dor tem a função de mostrar que estamos feridos e
precisamos cuidar do machucado. Nossa sociedade está ferida e devemos entender isso.
A sociedade deve reconhecer-se contendo grupos
fanáticos e agir para reduzir esse mal. Para isso, sugiro considerar a
capacitação das pessoas, dando-lhes um senso de responsabilidade pela
comunidade, educá-los para que possam e saibam distinguir fatos reais de
falsidades sorrateiras (fake news), encorajando-os a ver através das propagandas
no rádio, nas redes sociais e nos noticiários falsos de determinados poderes
televisivos.
O
fanatismo prospera onde há privação e desigualdade. Se queremos reduzi-lo,
devemos tornar o mundo um lugar melhor - reduzindo a desigualdade, promovendo a
justiça social e garantindo uma vida digna de ser vivida. Sempre haverá
fanáticos racistas, misóginos, homofóbicos, anti-migrantes, opositores às diversas religiões, indivíduos contrários ao empoderamento feminino, etc. Mas eles devem ser contidos, nunca incentivados
como vem ocorrendo ou mesmo explorados por políticos de nosso país. E a luta
não é apenas em nosso território. Aqui somos apenas um exemplo grotesco de um
fenômeno mundial. O fanatismo continuará a prosperar, a menos que enfrentemos
suas causas na superpopulação, na desigualdade , na falta de justiça social, na ausência de fraternidade e na degradação. Trata-se de um problema
para a humanidade e a consciência planetária resolver.
Encerrando,
comento sobre o momento eleitoral. Sabemos que no Brasil existem importantes líderes fanáticos e suas significativas legiões. Será que nunca serão curados, nem seus
seguidores fanáticos? Certamente muitos dos apoiadores desses políticos são
pessoas muito mais razoáveis do que como vem se apresentando, pessoas temporariamente
enganadas neste momento, mas que provavelmente retornarão à racionalidade e
moderação quando o nosso querido Brasil encontrar sua vocação e tranquilamente caminhar rumo a um futuro auspicioso. À vista disso, devemos ponderar cuidadosamente e eleger líderes que não
sejam energúmenos, psicopatas ou maníacos, e sim, líderes que nos unam como um
só povo, em vez de encorajar divisões fanáticas e autodestrutivas como vem ocorrendo até hoje.
Um
abração e boas eleições!
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Um
abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
Psicoterapeuta de
adolescentes, adultos, casais e gestantes.
Psicólogo de linha
humanista com acentuada orientação junguiana e budista.
Palestrante sobre temas
ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
Consultório próximo à estação Vila Mariana do Metrô. Atendimento de segunda-feira aos sábados. Marcação de
consultas: Tel. e Whatsapp 11.94111-3637
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