A
juventude de hoje enfrenta um problema grave e generalizado que é a violência durante
o namoro. Um grande número de estudantes do ensino médio relata ter sofrido
agressão física e/ou sexual de seus namorados, sendo as meninas e as jovens
mulheres, com idade entre 16 e 24 anos, as mais suscetíveis a esse tipo de
violência. Infelizmente, muitos dessas jovens temem denunciar o agressor, de
modo que o número de ocorrências provavelmente é muito maior do que o que é
conhecido.
Compartilharei
o caso de uma paciente para que entendam a gravidade desse assunto –
relacionamento não saudável e abusivo. De modo objetivo, posso dizer que essa paciente
iniciou a psicoterapia em busca de autorrespeito. Ela viveu um relacionamento
abusivo a partir dos 15 anos de idade, e o seu também jovem namorado a torturava
física e psicologicamente. Explicou-me sobre seu medo que sentia naquele relacionamento
abusivo da seguinte maneira: "Ele conhecia todos os meus movimentos, com
quem eu estava, onde eu ia e quem eram meus amigos. Ele me ameaçava e me dizia que
se algum dia eu o deixasse, ele me mataria. Acabei acreditando nele e logo as suas
palavras se tornaram uma real possibilidade para mim. Ele me forçava a fazer
sexo em horário escolar, portanto, fui negligenciando com os estudos. Uma vez eu
recusei e ele me empurrou nas escadas da escola. Ele era muito agressivo. Ele
chegou a cortar em vários lugares do meu corpo com um canivete. Se eu
conversasse demoradamente com algum outro garoto, ele me batia. Uma vez, ele me
deu um soco tão forte que fiquei com o olho roxo, e isso só porque ele achava
que eu conheci um outro cara - na verdade, eu nunca vi o tal garoto. Por causa
daquele relacionamento abusivo, minha passagem na escola foi horrível".
Essa
paciente era de uma família onde a violência dos parceiros íntimos era
prevalente, e continuou a viver no vicioso ciclo abusivo, até que acabou se casando
com seu agressor. O abuso continuou em seu relacionamento até que um dia, ela
decidiu se libertar. Ela lembra-se que ao educar a sua filha de três anos,
repreendendo-a, disse que seu pai iria levá-la "naquela sala"
(apontando para a sala em que ela mesma era frequentemente abusada) e que
bateria nela quando ele chegasse em casa. Esse foi o momento da mudança. A
paciente finalmente assumiu que se não deixasse o marido agressor, o ciclo de
abuso se repetiria. Ela se questionou quanto as mensagens que ela estava
enviando aos seus filhos e como isso os afetaria no futuro. Ela sabia que não
tinha outra alternativa senão escapar daquela relação.
Hoje,
passado algum tempo daquela trágica experiência, ela se dedica a orientar e
apoiar outras sobreviventes de relacionamento abusivo. Eventualmente dá
palestras em escolas na tentativa de ajudar pessoas traumatizadas por conta de relacionamentos
violentos.
Vejam,
então, o quão importante é que as jovens reflitam e questionem-se sobre a
qualidade de seus relacionamentos. Prá ajudar nessa reflexão, sugiro as
seguintes perguntas:
- O seu namorado faz com que você fique isolada de sua família e amigos?
- O seu namorado faz você se sentir como se tudo fosse culpa sua?
- O seu namorado lhe agride fisica, verbal, sexual, emocional, mental e/ou financeiramente?
- O seu namorado lhe controla dizendo onde você pode e não pode ir?
- O seu namorado controla o que você diz?
- O seu namorado controla o que você veste?
- O seu namorado lhe ameaça de alguma forma?
- O seu namorado lhe obriga a fazer coisas que você não quer fazer?
- O seu namorado faz você chorar mais do que sorrir?
- O seu namorado discute com você o tempo todo?
Se
você respondeu "sim" a qualquer uma dessas questões, é um sinal de
aviso de que você pode estar em um relacionamento que não seja tão bom. Um
namoro saudável lhe permite ser sempre quem você é sem ter que mudar o seu
jeito de ser por causa de outra pessoa. É preferível confiar em seus instintos
e não se culpar por decisões de outra pessoa. Acrescento que sempre deve haver
um sentimento de amor e igualdade num relacionamento saudável. O amor não dói e
um bom relacionamento deve consistir em paciência, bondade e compreensão.
Pessoal,
relacionamentos abusivos deixam consequências. Os adolescentes que estão em
relacionamentos assim são mais suscetíveis à depressão e ansiedade, comportamentos
de risco (por exemplo, uso de drogas e álcool), auto agressões e ideias
suicidas. Além disso, os adolescentes em relações abusivas no ensino médio ficam
em maior risco de se envolverem novamente com agressores no período da
faculdade.
Se
você é uma adolescente e acha que vive um relacionamento não saudável, procure
ajuda e conte a um adulto em quem você confia. Pode ser seus pais, tios,
amigos, ou, se for necessário, um psicólogo. Lembre-se que esse relacionamento
pode por a sua vida em perigo. Ame-se o suficiente para obter a ajuda que
precisa para sair deste relacionamento. Ninguém merece ser abusado! Não é sua
culpa. Você é importante, sua vida é importante, viver uma vida feliz e
saudável é importante.
Se
você é o pai ou mãe de uma adolescente que vive um relacionamento abusivo, seja
solidário(a). Não julgue nem culpe a sua filha. Os relacionamentos abusivos são
complicados e o que sua filha mais precisa é o seu amor e apoio incondicional.
Lembre-se
de que todos nós temos uma escolha na vida e ninguém nunca deve tirar isso de
nós. O amor não magoa, você é uma pessoa digna e que merece o “melhor”, logo não
se conforme com menos do que esse “melhor”.
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Um
abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes. Psicólogo
de linha humanista com acentuada orientação junguiana e budista. Consultório
próximo ao Shopping Metrô Santa Cruz. Atendimento de segunda-feira aos
sábados. Marque uma consulta pelos fones 11.5081-6202 e 94111-3637 ou pelos
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