Além disso, o budismo considera o homem como uma unidade psicossomática,
cujo funcionamento equilibrado é necessário para o bem-estar e saúde mental,
havendo, como sugerido, uma interdependência fundamental entre mente e corpo em
todas as fases de uma doença e na saúde. Ensina o Dhammapada, que “a mente é a
precursora da todos os fenômenos", logo, na perspectiva budista, quando
nos referimos à saúde humana, devemos levar em conta primeiro a saúde mental. Mas,
lembre-se, a saúde mental precisa de cuidados físicos, psicológicos e sociais,
por ser um fenómeno que envolve uma interação entre mente, corpo e ambiente. Quer
dizer, saúde, em geral, resulta de um equilíbrio dinâmico que abrange os
aspectos físicos e psicológicos do homem, bem como as suas interações com o seu
ambiente natural e social. A tarefa da psicoterapia é multidimensional,
exigindo uma abordagem ampla, e isso, no enfoque budista é uma “regra”
indispensável.
Há vários pontos semelhantes na abordagem ocidental e na oriental no que se refere à terapêutica. Citarei alguns:
- A consciência humana é de preocupação fundamental no budismo e na Psicoterapia Ocidental, haja vista que a eliminação dos problemas mentais é uma condição sine qua non para o desenvolvimento pessoal.
- A própria forma de diálogo dos discursos do Buda lembra a abordagem de um psicoterapeuta com um paciente que requer sua atenção.
- Na psicologia budista acredita-se que o foco maior do tratamento é a causa e não os sintomas da pessoa, prenunciando, por assim dizer, os fundamentos do moderno tratamento psicoterapêutico.
- Desejos, amor, ódio, apegos, incompreensão e ilusão são, para ambas as correntes, fatores usados exaustivamente para a compreensão de um paciente.
Creio que escolher atuar também com a psicologia budista deve-se ao fato
do budismo ser uma “filosofia de caráter psicológico”, a qual aponta para um
jeito de conduzir a própria vida evitando o mal, fazendo o bem e purificando a
mente. Isso, obviamente, leva uma pessoa a um estado de paz, sem deixar, porém,
de estar atento à realidade, conscientizando-se dela e aceitando-a tal como ela
é. Tal como nos ensinamentos de Buda, o reconhecimento da existência do
sofrimento é o primeiro passo para, havendo uma correta compreensão dessa
verdade, trabalharmos, paciente e psicoterapeuta, pela diminuição ou cessação
de sua dor, seja emocional, psicológica e, em muitos casos, a dor física.
Um outro bom motivo para ser adepto da psicologia budista está no fato
dela conter a resposta para as pessoas que buscam o sentido da vida, além das
respostas aos diversos problemas psicológicos e sociais, espirituais ou mesmo
místicos dos dias atuais, porém com uma importante característica: a psicologia
budista não propõe soluções baseadas em teorias e especulações, apenas aquelas
que sejam sustentadas pela sabedoria e pelo conhecimento. Isso leva-me, durante
o atendimento psicoterapêutico, a evidenciar ao paciente a importância e
necessidade de se ter uma percepção direta e total da verdade, fazendo-o
entender também que isso só é possível através do esforço próprio, paciência e
inteligência. É importante essa passagem pois, afinal de contas, é o homem quem
traça a rota do seu próprio destino. Nesse ponto, há um encontro com a
Psicologia Humanista e Existencialista que tem entre os seus pressupostos, o
fato de que a cura psicológica é possível estimulando-se o paciente a
autodesenvolver-se, pois todos os homens reúnem em si condições para isso... e
porque, mediante próprio esforço e dedicação, todos tem em suas mãos, a
capacidade de libertarem-se da ignorância e do sofrimento. Em suma, tanto a
psicologia humanista existencialista como a budista pregam que o homem é o seu próprio mestre, capaz de libertar-se dos
condicionamentos e dos apegos - seja a coisas do passado como a nada ainda não
acontecido, conseguindo, assim, viver plenamente o presente e a reconhecer o
mundo e a si próprio tais como são.
Enfim, amigos e clientes, respondendo à questão inicial, sou um budista
psicólogo e não atuo apenas com a psicologia budista, mas reconheço que ela tem
um espaço considerável em meu trabalho pois é sempre um convidar a "vir e
ver", e não vir para crer; com certeza, há muitas oportunidades para,
através dos conceitos propostos pela psicologia budista, convidar os meus
clientes a abrirem os olhos e verem livremente, e não fechá-los, dando ordem a
crer.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro
Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.

