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UMA INFÂNCIA DIFÍCIL PODE AFETAR RELACIONAMENTOS NA VIDA ADULTA

Traumas durante a fase de desenvolvimento são mais comuns do que percebemos, sendo verdadeiramente assustador a quantidade de crianças que relatam mais de uma experiência traumática antes dos 5 anos de idade relacionadas a vários motivos, incluindo abuso sexual, negligência, exposição a violência doméstica e perda/luto traumático. Para você ter uma idéia da importância disso, saiba que adultos que foram vítimas de traumas podem desenvolver Transtorno de Estresse Pós-Traumático, o qual é caracterizado por dificuldades no controle emocional, consciência e memória, autopercepção, percepções distorcidas de perpetradores de abuso, dificuldades nas relações com outras pessoas e efeitos negativos sobre o sentido da vida.

Como o trauma em fase de desenvolvimento impacta a formação de identidade? 

A formação de identidade (incluindo o senso de ser bom o suficiente, a integração da emoção e do intelecto, a consciência básica do estado emocional, o sentir-se seguro e coerente como indivíduo, e até mesmo a percepção básica de quem realmente se é) é uma parte importante do desenvolvimento psicológico e ocorre ao longo da vida. Essa formação é interrompida pelo trauma porque a sobrevivência básica tem precedência e usa recursos normalmente alocados para o desenvolvimento normal do indivíduo. Um trauma precoce também desloca a trajetória do desenvolvimento do cérebro pois um ambiente caracterizado pelo medo e negligência, por exemplo, causa diferentes adaptações dos “circuitos cerebrais” alterando as sensações de segurança e amor. Quanto mais cedo ocorre a aflição, mais profundo é o efeito.

A tarefa de desenvolver a identidade na idade adulta, desafiadora o suficiente (embora recompensadora) para aqueles com uma educação segura e enriquecedora, é especialmente preocupante para aqueles que lidam com as consequências de terem sofrido um trauma durante a fase de desenvolvimento. Devido aos atrasos causados por defesas psicológicas, “auto-repressões” e pelas consequências na vida adulta (que frequentemente incluem abuso de substâncias psicoativas, transtornos alimentares, depressão, maior risco para muitos problemas de saúde, problemas comportamentais, dificuldade em relacionamentos pessoais e desenvolvimento profissional), o desenvolvimento e definição da identidade pessoal fica prejudicado.

A identidade em adultos que não resolveram traumas ocorridos na infância é, na maioria das vezes, organizada em torno da idéia de ser um sobrevivente e de conseguir manter a sua segurança em relação aos outros, levando-os a repetições re-traumatizantes e desalentadoras e impedindo experiências orientadas para o crescimento. Indivíduos nessa situação tornam-se facilmente identificados por um "eu traumático", à custa de um senso de si mesmo mais inclusivo e flexível. Pessoas com traumas significativos se dissociam de seu ambiente e de si mesmos desde o início e podem permanecer “desconectadas” até o começo da idade adulta, apenas reconhecendo o que aconteceu quando não há outra escolha.

Com estas considerações em mente, passo a destacar as principais maneiras pelas quais a identidade tende a ser moldada por experiências traumáticas. Uma psicoterapia pode ajudar bastante na compreensão desses temas básicos e que muitas vezes resultam de efeitos dissociativos sobre a personalidade traumatizada. Isso pode ajudar as pessoas a reconhecerem áreas de dificuldade para que possam começar a realizar o trabalho de recuperação, reparação e crescimento pessoal. Para ilustrar, seguem algumas situações traumatizantes nas vidas de muitas pessoas

“Perda da infância”: "Eu nunca tive uma infância" ou "não me lembro muito de como cresci": As pessoas que passam por uma infância muito angustiante muitas vezes não conseguem lembrar grandes partes de suas vidas. Elas podem se lembrar de momentos específicos chamados de "memórias de flash" mas que não representam qualquer contexto para elas. Geralmente não possuem uma história clara de si mesmos quando eram crianças, adolescentes ou quando estavam no início da vida adulta; às vezes, isso inclui até mesmo períodos mais tardios em suas vidas. Essa "narrativa coerente" da própria biografia pode ser ausente, subdesenvolvida, falsa ou simplista demais. Muitas pessoas me disseram que sentem que sua infância foi “roubada” e, sem essa base, a identidade adulta é comprometida. 

“Faltando partes de si mesmo”: "Eu sempre senti que algo estava faltando, mas eu não sei o que é.": Com o sofrimento crônico consequente do trauma, as crianças muitas vezes desconectam partes fundamentais de si mesmas para sobreviverem. Elas podem confiar numa pessoa importante a fim de terem estabilidade e fazerem parecer que tudo está bem - como ser um estudante exemplar -, tendo pouca ou nenhuma vida pessoal real. Mais tarde na vida, elas podem sentir que partes de si estão faltando. Através do crescimento pessoal e da psicoterapia, elas podem redescobrir e até mesmo criar novamente essas partes que faltam. Às vezes, essas partes estão lá, guardadas para melhores momentos, se quiserem, mas com um sentimento mais jovem do que a sua personalidade atual. É comum que essas partes ausentes estejam associadas a estados emocionais e lembranças particulares, e a compreensão das suas relações leva a um senso de identidade mais completo. 


“Tendência a ter relacionamentos destrutivos”: "Eu sou o tipo de pessoa que sempre namora pessoas que são ruins para mim.": Não é incomum que pessoas traumatizadas acabem tendo amizades, relacionamentos românticos e até mesmo prefiram estar em ambientes de trabalho que não são bons para elas. Há encontros com outras pessoas que se encaixam em suas identidades traumáticas, mesmo quando estão tentando fazer escolhas diferentes e melhores, acarretando numa nova traumatização através da repetição do passado. Elas podem viver em torno de pessoas emocionalmente indisponíveis, abusivas ou narcisistas, ou acabam tentando resgatar e consertar aqueles(as) com quem namoram. Conscientemente, querem encontrar alguém que possa fornecer o que intelectualmente sabem que precisam e desejam, mas as influências do inconsciente as levam a caminhos indesejados e já vivenciados. Uma pessoa assim, frequentemente, percebe uma "química" poderosa num novo relacionamento, o que faz parecer que será diferente e melhor, apenas para aprender com os desapontamentos que se repetem. Quando os amigos tentam avisá-la, é comum não os escutar. Recorrentemente essa pessoa entra em relacionamentos destrutivos que podem ser desorientadores e confusos, levando-a a questionar a autocompreensão e a manter-se na antiga identidade, impedindo que sua real identidade crie raízes. 

“Evitar relacionamentos”: "Eu sou alguém que está melhor sozinho": Alternativamente, pessoas com experiências negativas envolvendo relacionamentos íntimos podem optar por evitar a proximidade e isolarem-se. Independente do início dessa opção, representa uma tentativa de quebrar o ciclo de relacionamentos prejudiciais. Porém, relacionamentos saudáveis ​​com outras pessoas são cruciais para o desenvolvimento pessoal, pois apresentam oportunidades de crescimento e mudança. A falta delas na vida adulta, ainda que como medida de autoproteção, prejudica em muito o desenvolvimento de uma identidade totalmente adulta, já que solidifica uma autopercepção de indignidade e autocondenação. Há muitas exceções à sensação de que somos muito falhos para com os outros, os quais “merecem algo melhor”. A maioria de nós tem a capacidade de oferecer mais do que achamos que fazemos e, assim, tornar-se mais apreciadores de nós mesmos. Mas é muito complicado falar aqui sobre esperança, fé em si mesmo e como se desdobra um longo processo de recuperação. 

“Evitar a si próprio”: "Não gosto de pensar em mim mesmo; isso só me faz sentir mal": Especialmente quando o trauma infantil ocorreu com um membro determinante em seus relacionamentos (pais, irmãos e outras pessoas importantes), qualquer lembrança dessas experiências pode levar a esforços para administrar emoções e experiências dolorosas através da fuga de si mesmo. Levado ao extremo, isso pode levar a pessoa à autodestruição. A conexão consigo mesmo, bem como com os outros, é um lembrete poderoso do trauma vivido, ativando memórias e emoções que muitas vezes são muito fortes para se lidar. O cuidado consigo próprio é prejudicado e a pessoa aprende a viver como se fosse separada de si mesma como uma questão de hábito. Podem não ser capazes de refletir sobre si mesmos, e fugir de qualquer encorajamento para fazê-lo. O sentido de si é muitas vezes caracterizado por nojo e maldade essencial, refletindo uma identidade traumática rígida. 

“Dificuldade em integrar emoções à identidade”: "Eu não sou o tipo de pessoa que tem sentimentos fortes sobre as coisas": Quando os sentimentos não têm lugar na família de origem, as emoções se separam da identidade. Continuam a ter influência, levando à confusão e a uma sensação instável de identidade porque a pessoa é incapaz de prever, quanto mais controlar, emoções fortes. Precisamos de dados emocionais para sermos nós mesmos e para tomarmos decisões. A falta de regulação emocional causa problemas devido às decisões impulsivas e atrapalha a formação de relacionamentos saudáveis ​​com os outros.

As pessoas podem experimentar uma sensação de entorpecimento emocional ou (paradoxalmente) sentir que não têm nenhuma emoção. Elas podem experimentar uma gama limitada de emoções ou sentir emoções suaves. Podem, por exemplo, ser capazes apenas de sentir emoções vagas, como frustração ou tédio, ou podem bloquear a insatisfação até que a raiva exploda. Elas podem sentir emoções negativas sobre si mesmas, como nojo e auto-aversão e recuar de qualquer coisa ou de qualquer pessoa que apresente uma visão positiva, podem também sentir-se desconfortáveis com a gratidão dos outros, "não saber elogiar" ou ser desconfiadas quando outros expressam bondade. Elas podem ainda adotar uma identidade excessivamente intelectualizada, agindo de forma afetada ou desajeitada em relação aos outros. Isso evidentemente leva à dificuldade nos relacionamentos pessoais, pois as emoções são necessárias para a intimidade e moldam as escolhas de carreira, limitando, muitas vezes, o avanço pessoal. A identidade é estreita e plana, e reintegrar as emoções ao senso de si mesmo, embora recompensador e necessário ao crescimento, pode ser muito desafiador, repleto de medos e de difíceis experiências de aprendizado.

Caro(a) leitor(a), embora possa ser um pouco assustador obter conhecimentos sobre os efeitos que ocorrem na vida adulta consequentes de trauma ocorrido em fases do desenvolvimento, os esforços psicoterapêuticos são eficazes. A recuperação, o luto e o crescimento muitas vezes ocorrem durante um período mais longo do que se desejaria, tendo a reconexão consigo mesmo, muitas etapas. Estabeleça metas de longo prazo (atingíveis) e “trabalhe” para alcançá-las – isso é importante, mesmo que não lhe pareça possível ou verdadeiro! Trabalhar para atingir um cuidado pessoal básico é o primeiro passo vital, assim como procurar ajuda especializada para isso. Desenvolver compaixão e paciência consigo mesmo pode ser difícil, mas será sempre muito útil.

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Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar

  • Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
  • Psicólogo de linha humanista existencial com acentuada orientação junguiana, budista e pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo e Psicologia Clínica.
  • Voluntário no Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina.
  • Psicólogo colaborador da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva.
  • Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
  • Consultório próximo à estação de metrô Vila Mariana em São Paulo, SP.
  • Atendimentos (presenciais e por internet) de segunda-feira a sexta-feira.

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