Por Paulo Cesar T. Ribeiro
É significativa a insistência
pela qual, um grande número de pessoas deseja receber “receitas” para a solução
de conflitos, ao invés de desejarem refletir sobre os processos que levam ao
amadurecimento e ao desenvolvimento humano, os quais estão, em profundidade,
ligados ao desenvolvimento de ambientes de harmonia, de facilidade de resolução
de conflitos e da adoção do conflito como instrumento de crescimento. Heráclito
de Éfeso (séc. V a.c.) dizia que “a oposição dos contrários é a condição da
transformação das coisas e, ao mesmo tempo, principio e lei. O que é contrário
é útil, pois é daquilo que está em luta que nasce a mais bela harmonia”. Talvez
a minha atenção a isso se deva ao fato de que, embora reconheça o
desenvolvimento da assertividade como a melhor maneira de preparar as pessoas
para a prevenção e a resolução de conflitos, também estou engajado na
preparação das pessoas para que estejam conscientes da construção do paradigma
do 3º milênio.
Amigos, isso não é brincadeira:
estamos formando uma nova visão, concepção de mundo e atitude frente a ele e
não podemos admitir retrocessos! Essa visão corresponde à nossa própria maneira
pela qual entendemos a posição que ocupamos no mundo e uma orientação de nossa
adaptabilidade à realidade. É mais ou menos o seguinte: a humanidade reconheceu
as anomalias e uma séria crise na maneira pela qual as pessoas estavam se
relacionando entre si e com o resto do mundo e, como já está mais do que
provado que a evolução do ser humano não é devido a uma mecânica causal e sim
por causa de esforços conscientes dentro de uma perspectiva de ação e
responsabilidade, é necessário romper o condicionamento cultural de muitos anos
de prática analítica e substituir o modelo. É impossível manter a desarmonia, o
desequilíbrio (de empresas, de mundo, etc.) como um espelho de nosso desequilíbrio
interno. Por outro lado, é necessário adotarmos uma visão global e uma
correspondente estratégia capaz de tornar essa visão uma realidade. Essas
mudanças também abrangem as relações interpessoais mas o que muito preocupa é
que tem aumentado a tendência de ver o outro como um objeto, um instrumento da
própria satisfação, e sendo um objeto, a outra pessoa é percebida como algo que
pode ser controlado, direcionado e manipulado. A assertividade enquanto “estilo
comportamental” que depende do autoconhecimento e da maturidade da pessoa,
representa a tendência salvadora das relações, já que evita a relação
pessoa-objeto, isto é, a relação com outra pessoa que é usada como instrumento
para atingir objetivos e prover satisfações.
É claro que concordo que o
conceito de igualdade entre as pessoas, tendo cada um, os mesmos direitos que
tem o seu semelhante nas relações interpessoais. No entanto, nem sempre
conseguimos resolver de maneira satisfatória, alguns dos problemas da vida,
como o vizinho que ouve música e atrapalha o nosso sono: ou mudamos para o
quarto dos fundos, dormimos com algodão nos ouvidos, ou simplesmente
encaminhamos um protesto escrito para o síndico, gerando uma situação de
mal-estar; ou então, poderíamos abordar o vizinho com clareza, negociando um
horário em que a música não atrapalhasse ninguém e, provavelmente, todos se
sentiriam bem com os resultados. Esse tipo de coisa pode ocorrer em situações
simples do cotidiano de cada um, como, por exemplo, quando recebemos, no
restaurante, um filé mal passado que havíamos pedido “ao ponto”. Uma pequena
reflexão já nos indica, com muita facilidade, as inúmeras conseqüências
desagradáveis da “não assertividade”, seja em termos de sérios atritos, seja em
termos de doloridas somatizações por conta dos “sapos engolidos”.
Em razão dessas observações, dedico-me
muito à estimulação do autoconhecimento e da adoção do comportamento assertivo,
o que torna a pessoa capaz de agir em seus próprios interesses, a se afirmar
sem ansiedade indevida e a exercitar os seus direitos sem negar os alheios. Se
criarmos e desenvolvermos em nossas convívios sociais, um ambiente de franca
compreensão e de aceitação dos direitos alheios, estaremos trabalhando
preventivamente e mantendo o conflito no ideal proposto por Heráclito de Éfeso:
um caminho para o crescimento.
O trabalho pelo
autodesenvolvimento e assertividade em detrimento das “receitas” de resolução
de conflitos é motivado pelo fato de que uma significativa quantidade de
pessoas tem descoberto que tornar-se assertivo é um processo de aprendizagem
possível e altamente compensador para a efetividade das relações interpessoais,
sendo a efetividade um critério fundamental para se avaliar resultados de
negociações, inclusive e principalmente, as cotidianas.
Se a tendência de tratar as pessoas
como coisas for mantida, seremos todos, certamente, componentes de uma única
“matrix”, e, como máquinas, seremos conhecidos pelo que fazemos e não pelo que
realmente somos. Pior ainda será ver os conflitos sendo tratados como defeitos
ou “não-conformidades” que devem ser consertadas. Estamos, caros amigos, com a
faca e o queijo na mão, pois essa é a era do Despertar da Consciência. Se nos
apropriarmos de nossa verdadeira realidade, muito provavelmente preferiremos os
ambientes onde a assertividade seja constante e o conflito, uma via de
crescimento facilmente resolvida por conta da maturidade e do desenvolvimento
das pessoas. Valorizar exclusivamente as técnicas de solução de conflitos
(conduta própria de quem adoeceu por egocentrismo e visão de curto alcance) é
considerar que as pessoas estão e assim ficarão: despreparadas para desenvolver
relações harmoniosas e produtivas.
Enfim, estamos num mundo que é
fruto de um dinâmico processo criativo. Pode-se ver o que está
acontecendo no nosso entorno e no mundo interior pela janela do processo
criativo. Essa janela apresenta uma imensidão de processos, e não de coisas,
permitindo-nos ver tudo como movimentos e evolução constantes. Tudo existe como
um estado presente e um potencial futuro... é o “ser e vir-a-ser”. Vamos adotar
essa visão e, assim, participar desse mundo como co-criadores responsáveis pela
melhoria da qualidade do Ser Humano.
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Um abraço,
Psicólogo
Paulo Cesar
Psicoterapeuta
de adolescentes, adultos, casais e gestantes. Psicólogo de linha humanista com
acentuada orientação junguiana e budista. Consultório próximo ao Shopping Metrô Santa Cruz. Atendimento
de segunda-feira aos sábados. Marque uma consulta pelos fones 11.5081-6202 e
94111-3637 ou pelos links www.psicologopaulocesar.com.br ou
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