UMA PESSOA “GAY” DEVE FAZER PSICOTERAPIA APENAS COM UM PSICÓLOGO “GAY”?
Como
eu disse, no vídeo, de vez em quando, alguém me pergunta: “Paulo, como eu sou “gay”, você
acha que eu deveria fazer terapia com
um psicólogo “gay” ou isso não é importante? O que faz mais sentido para mim?
Sou
psicólogo, meu nome é Paulo Cesar, e acho essas perguntas interessantíssimas! É realmente uma dúvida legítima, merecedora de resposta com detalhes e que possa ajudar nas reflexões de homoafetivos e demais
pessoas LGBTQIA+ sobre suas psicoterapias, e também para orientar os amigos e
parentes dessas pessoas a respeito disso. Então, vamos em frente com os devidos
esclarecimentos.
Por
conta das conversar durantes os atendimentos psicológicos de pacientes “gay”s, identifiquei
o que podemos chamar de benefícios de uma pessoa do universo LGBTQIA+ fazer terapia
com um psicólogo do mesmo universo. Bem, uma coisa é bastante óbvia: não
são necessárias longas explicações para que o
terapeuta entenda
várias situações do paciente. Outra coisa é que o
paciente pode supor, com muita razão, que seu terapeuta ficará confortável e certamente terá ouvido falar de tudo do “mundo “gay””, incluindo sua vida sexual. Além disso, um psicólogo homoafetivo saberá conversar sem
dificuldades com
seu paciente sobre as normas da comunidade “gay”, o que pode
ajudar o seu paciente a tomar decisões sobre o que é saudável ou
como o paciente pode querer modular o próprio comportamento.
Mas
pertencer à mesma
comunidade também pode apresentar desafios que
presumivelmente não foram pensados. Por exemplo, se
ambos fizerem fazem parte da mesma comunidade, provavelmente pode haver uma
competitividade com base na percepção de como cada um domina a vida na referida comunidade. Ao longo dos anos em que venho trabalhando com pessoas LGBTQIA+, descobri alguns pacientes ressentidos comigo por
conta de suas próprias hipóteses sobre itens importantes no mundo em que também vivem, o “mundo “gay””; eram
hipóteses que se referiam ao meu sucesso, minha aparência, minhas
roupas ou, mais
significativamente, suas suposições sobre quem eu sou e qual a minha orientação sexual, sempre com base em suas
próprias projeções. Cabe salientar que isso,
em psicoterapia, é muito comum, qualquer que seja a orientação sexual das
pessoas em psicoterapia. Sendo pacientes “gay”s, muitas vezes podem pensar que eu me encaixo no estereótipo do homem “gay”
branco que tem tudo e que não honra a santidade do
relacionamento. Esses sentimentos são importantes para explorar no
relacionamento terapêutico, mas certamente podem ser desafiadores.

Não
obstante, tenho que dizer que, ao contrário das suposições de muitas pessoas, os
homens “gay”s não são imunes à homofobia, a maior parte internalizada por uma
vida inteira vivendo num mundo homofóbico. Presumo, ademais, que o primeiro homofóbico que um paciente encontra é
aquele que vê ao parar frente a um espelho. O ponto que gostaria de chegar é
que esse medo e raiva podem
surgir na psicoterapia para com um
psicólogo “gay”, especialmente se ele
estiver se sentindo confortável consigo mesmo de uma forma que o paciente ainda não se sente. Certa vez, um paciente me disse que tinha uma
imagem mental de mim circulando pelo
Shopping J. K. Iguatemi em S. Paulo com um monte de sacolas de compras! Ele não estava
totalmente errado visto que, tal
como muita gente, tenho as minhas superficialidades do Ser, mas sou também bastante profundo em outras com maneiras bem mais significativas, porém a observação foi útil para a terapia porque me mostrou como ele estava se sentindo preso
dentro de si mesmo.
O
outro lado da história, ou seja, considerar fazer
terapia com um psicoterapeuta não-homoafetivo, pode, para alguns, parecer um pouco assustador. As pessoas LGBTQIA+ costumam fazer
suposições sobre o nível de conforto de um psicólogo
heterossexual com as
coisas sobre as quais ele, o paciente, deseja falar. Mas quero, de imediato, acabar com esse medo: se o psicólogo for maduro e experiente, isso não será um problema. Ademais, encontrar alguém fora de sua comunidade que se
sinta confortável com todos os aspectos da vida de um cliente homossexual pode
ser uma experiência profunda e curadora.
Sei, pela minha própria experiência (perdoem-me a falta de modéstia): com os
pacientes LGBTQIA+ que atendi ao longo de minha vida profissional, que a experiência, com certeza, sempre foi nada menos do que transformadora.
Do meu ponto de vista, é interessante explorar as
suposições que os pacientes LGBTQIA+ têm sobre os terapeutas heterossexuais e
as suposições que eles fazem sobre como os terapeutas os veem. Uma coisa
que todos os psicólogos sabem é que, se algo
está acontecendo no “set
terapêutico”, a
mesma dinâmica também está acontecendo em outras partes da vida do paciente. E como não vivemos isolados, um psicólogo heterossexual pode trazer uma perspectiva para o processo que um terapeuta homoafetivo não pode - eles podem
falar sobre sua experiência como pais, por exemplo. Às vezes, essa
experiência pode ser mais útil do que a perspectiva de um terapeuta “gay”.
Em última análise, a resposta para a pergunta é
fazer sua lição de casa e ouvir seu instinto. Faça uma primeira sessão com o psicólogo
heterossexual, observe-o, ouça a sua voz e reações do
terapeuta, analise a sua postura e,
acima de tudo, perceba como se sente. Sentir-se seguro e respeitado por seu psicoterapeuta - seja essa pessoa homoafetiva ou não - é
a chave para o sucesso da terapia. Você ficará muito vulnerável durante a psicoterapia com essa pessoa,
portanto, garantir esse nível de confiança é essencial.
Finalmente, pessoas
LGBTQIA+ podem
optar por trabalhar com diferentes psicoterapeutas
com base em
sua trajetória de vida. Eles podem iniciar a terapia pela primeira vez com
um terapeuta de sua comunidade porque, em alguns níveis, como vimos, a
compreensão desta comunidade pode tornar mais fácil a conversa. Em outras ocasiões,
talvez mais tarde na vida, um paciente “gay” pode escolher um psicólogo heterossexual diferente com base em outros
critérios importantes para aquele momento específico. Não há problema em perguntar a eles se já trabalharam com pessoas LGBTQIA+, mas certifique-se de realmente ouvi-los quando
responderem. Mesmo que um terapeuta heterossexual tenha tido poucos ou
nenhum cliente LGBTQIA+, eles ainda podem oferecer exatamente o que você
precisa e uma resposta do tipo: “Não tive tantas experiências assim, e talvez
você me ajude a entender mais” é realmente muito ideal; vocês dois estarão
envolvidos no processo.
Enfim,
hétero ou homossexual? Em última análise, isso pode importar menos
do que outros fatores, mas,
seguramente, o
vínculo e a sensação de conforto sempre serão o mais importante.
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locais:
Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
- Psicoterapeuta
de adolescentes, adultos e casais. Psicólogo de linha humanista com
acentuada orientação junguiana e budista. Palestrante sobre temas
ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
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