- que não só é possível estar no comando delas, mas que as emoções, em geral, não são ruins;
- que há utilidade, às vezes até prazer, em “navegar” nas ondas emocionais em constante mudança - até mesmo nas emoções irritantes, como a frustração, e as ardentes, como a raiva.
Um novo fato é que, embora inúmeros estudos em psicologia tenham
explorado a influência das emoções no bem-estar, pesquisas recentes sugerem que
as crenças que mantemos sobre nossas emoções podem ter implicações
importantes em nossa saúde psicológica.
Considere
a crença sobre o controle das emoções. Você acredita que as emoções são
controláveis (moldadas e ajustadas de acordo com a nossa vontade) ou que são incontroláveis (acontecem
“sem serem convidadas” e por “conta própria”)? Por mais inócuas que possam parecer, pagamos um alto preço por essas
crenças: elas não apenas podem se tornar fatores de risco para a
depressão, mas também podem orientar os
esquemas que usamos para gerenciar nossas emoções em
nossa vida cotidiana.
A resposta
parece clara: como regra, é benéfico
acreditar que as emoções são experiências boas e úteis, e não experiências
necessariamente prejudiciais e danosas; também é benéfico acreditar que as
emoções são controláveis. Mas, certamente,
não sendo muito rígidos visto que
se pensarmos que as emoções são totalmente controláveis
o tempo todo, como isso deve ser estressante nos momentos em que não conseguirmos controlar nossas emoções. Fato é que não há como negar
que seja surpreedente que o caminho
para o bem-estar tenha muito mais nuances do que as pessoas possam
pensar. Por exemplo, há contextos em que a raiva é a opção mais saudável assim
como há ocasiões em que querer se sentir feliz pode “sair pela culatra” – enfim, realmente, muito depende do contexto em que estamos sentindo a
emoção.
Devemos também ponderar sobre
a importância de nossas crenças sobre
nossas emoções. O que você acredita sobre o mundo molda o jeito como você
percebe e interage com esse mesmo mundo, então, o que você acredita sobre as
emoções deve moldar a forma como você aborda e gerencia suas emoções. Por exemplo, se você crê que as emoções são ruins, o que vai acontecer
quando você estiver chateado? Ou se você acha que as emoções são
incontroláveis, o que vai acontecer quando você precisar administrá-las?
Nossas
crenças exercem uma influência penetrante sobre nós, mesmo que não pensemos nelas em nosso
dia-a-dia. Elas
orientam o que queremos sentir e as estratégias que usamos para regular nossas
emoções.
Essas crenças, às vezes, vêm de fora – com as
pessoas nos dizendo
como devemos nos sentir, tal qual nossos
pais ao
dizerem "Não chore" ou "Seja
feliz". Quando observamos os outros, podemos vê-los lutando com suas
emoções ou julgando-as. Em
contrapartida, as crenças também
podem vir de nossas próprias experiências. Se eu tivesse dificuldade em
administrar minhas próprias emoções, poderia concluir que as emoções são relativamente
incontroláveis. Ou, se muitas vezes tenho emoções angustiantes, posso
desenvolver uma crença geral de que as emoções são particularmente ruins. No
fim das contas, as nossas crenças sobre
nossas emoções sempre afetam
nosso bem-estar psicológico.
É claro que para que essas crenças – abstratas - moldem a saúde e o bem-estar das pessoas, algum
processo precisa acontecer. Um dos caminhos mais plausíveis é através
regulação emocional (ou seja, os procedimentos que usamos para mudar emoções que temos e quando as temos). Exemplificando,
se tenho inclinações a pensar que as emoções são um
tanto incontroláveis, é menos provável que tente
regulá-las em minha vida diária. Outro processo é a meta-emoção: sentir emoções
sobre nossas emoções. Veja bem, se eu acho que as emoções são ruins ou prejudiciais, quando me sentir ansioso pode ser que me sinta mal por estar ansioso, o que me fará sentir pior ainda.
Afinal, quanto de nossas emoções estão realmente sob nosso
controle?
E as nossas crenças, podemos mudá-la? O que posso dizer é que as evidências de intervenções psicoterapêuticas mostram que é possível. Cito o caso em que a
psicoterapia pode ajudar pessoas com
transtorno ansiedade social a
reduzir seus sintomas,
ajudando-as a perceber e acreditar que
sua ansiedade é mais controlável.
Um
dos
objetivos dos profissionais de saúde
mental é ajudar seus clientes a mudar suas crenças desadaptativas. É
importante ressaltar que mudar as crenças é apenas um primeiro passo – é
crucial também dar às pessoas as ferramentas de que precisam para regular suas
emoções.
Todavia, convencer alguém de que pode
controlar suas emoções é capaz de não
ter um efeito muito benéfico se a pessoa também não tiver as ferramentas
necessárias para realmente controlar suas emoções. Uma intervenção psicoterapêutica
útil deve envolver a mudança de crenças e a aquisição de habilidades para usar formas eficazes
de regulação emocional.
Um outro ponto é a forma como a cultura influencia nossas crenças. Bem,
em parte, essas crenças vêm de nossa cultura,
lembrando que certas emoções são
mais valorizadas em algumas culturas do que em outras. Se vivemos em uma
cultura que acredita que uma determinada emoção é valiosa, devemos ser mais
propensos a valorizá-la - e mais propensos a tentar senti-la.
Uma “dica” para
ajudá-los a administrar suas emoções é a seguinte:
Quando
você
estiver tendo uma experiência intensa, tente “sentar-se” com a emoção e observe-a. Reconheça-a e não tente se livrar dela imediatamente ou julgá-la como bom ou ruim. Faça algumas respirações profundas. Sinta-a. Talvez consiga descrevê-la – arrisque entender de onde vem (“Acho que estou chateado ou
fora de controle”). Tente descentrar evitando o entendimento de “Estou com tanta raiva!” para “Aqui está um
momento de raiva”. Se você conseguir diminuir a intensidade de sua emoção,
será mais viável repensar a situação e obter uma nova
perspectiva. Contanto que você não esteja ruminando ou pensando sobre
isso, a emoção acabará por desaparecer por conta própria. São coisas que
tento fazer sozinho mas, claro, não nego, é sempre um desafio.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro
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