Um dos motivos que levam uma pessoa a iniciar uma psicoterapia são as reflexões e as dúvidas sobre a velha e boa questão do sentido da vida. E é preciso que seja dito que a consequência terapêutica dessa reflexão é o imediato confronto com a realidade da vida bem como a percepção de que podem existir dificuldades para a aceitação de alguns aspectos da própria realidade. Mas não há como escapar: a vida sempre nos interroga, e é a ela devemos sempre responder, portanto, somos, cada um de nós, responsáveis por nossas vidas e assim devemos ser durante as nossas existências.
Conversar sobre o sentido da vida na psicoterapia também costuma trazer reflexões sobre a finitude de uma pessoa - não a que encerra a vida, mas sim, uma finitude que, necessariamente, represente algo que dá sentido à existência humana. É inevitável falar sobre a morte no decurso da terapia e muitos manifestam que acreditam que, em última análise, tudo carece de sentido já que a morte, no fim, tudo destrói! Será que é realmente assim?
Particularmente não concordo com esse pensamento. Meu argumento é que se fossemos imortais poderíamos, com razão, adiar cada uma das nossas ações até o infinito e nunca teria a menor importância realizá-las agora. Quero dizer, com isso, que a finitude, a temporalidade, não é apenas uma nota essencial da vida humana, mas é, igualmente, constitutiva do seu sentido, estando fundada em seu caráter irreversível. Por essa razão, entende-se mais facilmente a responsabilidade que uma pessoa tem pela vida quando a referimos à temporalidade, à vida que só vive uma única vez. Por outro lado, nunca poderíamos avaliar a plenitude de sentido de uma vida humana com base na sua duração uma vez que não se avalia uma biografia pela sua extensão ou pelo número de páginas, mas sim pela riqueza do seu conteúdo, constatando-se, nessa avaliação, a grandeza das pessoas que perdemos.
Amigos, inevitavelmente todos sofrem perdas de entes amados. Observo que muitos pacientes após a perda, ficam inseguros e sem saber se as suas vidas (após uma importante perda), ainda conservam algum sentido. Considero que nessa situação, é necessário a pessoa se convencer da própria capacidade de continuar a viver, compreendendo, inclusive que parte do sentido da vida está, precisamente, em superar interiormente a infelicidade, em crescer com ela.
Pensemos alguns sofrimentos como a fome, a humilhação, o medo e a profunda raiva das injustiças. Essas são minimizadas graças às imagens sempre presentes de pessoas amadas ou ao sentimento religioso, a um amargo senso de humor ou até mesmo às visões curativas de belezas naturais como uma árvore ou um pôr do sol. Mas esses momentos de conforto não estabelecem o desejo de viver a menos que ajude a pessoa a ver um sentido maior no seu sofrimento aparentemente destituído de significado. Na vida, há sofrimento, e sobreviver é encontrar sentido na dor. Se há, de algum modo, um propósito na vida, deve havê-lo também na dor e na morte. Mas pessoa alguma pode dizer à outra o que é esse propósito - cada um deve descobri-lo por si mesmo e aceitar a responsabilidade que sua resposta implica. Se tiver êxito, continuará a crescer apesar de todas as indignidades.
O psicoterapeuta busca ajudar as pessoas a alcançar essa capacidade exclusiva dos humanos, ou seja, ele atua para despertar no paciente o sentimento de que o mesmo é responsável por algo perante a vida, por mais duras que sejam as circunstâncias. Na psicoterapia, a pessoa ouve certas coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de se ouvir. Uma dessas coisas é concentrar-se no futuro, ou seja, nos sentidos a serem realizados pelo paciente em seu futuro e, ao mesmo tempo, tirando do foco de atenção todas aquelas formações tipo círculo vicioso e mecanismos retro alimentadores que desempenham papel tão importante na criação das neuroses. Com isso, quebra-se o auto centrismo típico do neurótico, ao invés de fomentá-lo e reforçá-lo constantemente. O paciente é confrontado com o sentido de sua vida e o reorienta para si mesmo. Tornar-se consciente desse sentido pode contribuir significativamente para sua capacidade de superar a neurose: concentrar-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por esse sentido.
A busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano. Por essa razão costumo falar de uma vontade de sentido a contrastar com o princípio do prazer, no qual repousa a psicanálise Freudiana, e contrastando ainda com a vontade de poder, enfatizada pela psicologia Adleriana através do uso da busca de superioridade.
Além do comentado, como uma mágica “transcendental”, uma vez atingida a compreensão do caráter de missão de vida, ela se torna tanto mais plena de sentido quanto mais difícil for. E se, às vezes, nós duvidarmos do sentido da vida, deveremos ter sempre em mente que a primeira e mais imediata incumbência está em descobrir a própria missão e avançarmos na vida no que ela tem de único e irrepetível. Vale lembrar esta citação de Goethe: “Como pode uma pessoa conhecer-se a si mesma?” Nunca apenas pela reflexão, mas sim pela ação. Tenta cumprir o teu dever e logo saberás o que há em ti. Mas, o que é o teu dever? "A exigência do dia”.
Concluindo, gostaria de reforçar um ponto que muito interessa à análise existencial e à psicoterapia e que deve estar presente no trabalho psicoterápico. Esse ponto é fazer com que se experimente e vivencie a responsabilidade pelo cumprimento da missão pois quanto mais aprendermos o caráter de missão que a vida tem, tanto mais nos parecerá repleta de sentido as nossas vidas.
Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro
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