Ao longo de minha carreira como
psicoterapeuta tenho atendido pacientes que necessitavam de orientações sexuais
ou que apresentavam diversos distúrbios sexuais, conflitos quanto a sua
identidade sendo que muitas dessas pessoas, por mais incrível que possa
parecer, já pediram ajuda para que deixassem de ser homossexuais!!! Sobre isso,
meus amigos, estou plenamente seguro, experiente e confortável para afirmar que
transformar um homossexual num heterossexual é inconcebível, ou seja: não
há possibilidades de mudar a identidade sexual afirmada de uma pessoa. A
aceitação dessa afirmativa vai ao encontro da ideia de que a homossexualidade
não pode mais ser vista como uma “doença” ou um “desvio”, um “transtorno”. Ela
é, com toda a certeza, uma modalidade própria do amor, uma maneira de amar e
se sentir amado, e que tem, contudo, uma dolorosa consequência que é a solidão.
Esse é um dos principais focos deste processo terapêutico e sobre o qual, direi
algumas palavras.
Com muita frequência esses pacientes revelam seus sofrimentos através de frases como:
- “sou homossexual e a minha família não me aceita”
- “meus pais não me aceitam como sou”
- “somente minha irmã sabe que sou gay”
- “me sinto muito infeliz pois sou muito sozinho”
O homossexual conquistou seu espaço na sociedade (a despeito da ainda existente homofobia), mas é uma pessoa solitária. Seu problema não é mais a afirmação da sua identidade sexual, mas sim, conseguir e vivenciar o amor, algo indispensável e importantíssimo para todos nós. Fazer sexo não é problema para homossexuais. Isso é fácil de conseguir, mas a afeição, a ternura, o compartilhamento da sua vida com um companheiro que o ame, dividindo o seu cotidiano lhe faz muita falta e a dor dessa falta é quase insuportável.
Indo direto ao ponto, a partir de relatos de vários pacientes LGBTQIAPN+, conclui que à medida em que a psicologia desenvolveu mais consciência e aceitação das minorias sexuais, a discriminação aberta deu lugar a formas mais sutis de viés heterossexista. Ou seja, a discriminação desses pacientes está sendo, infelizmente, realizada por “agressões disfarçadas” e sutis como um olhar, um tom de voz ou mesmo com um comentário heterossexual.
Isso é muito grave se a discriminação ocorrer no set psicoterapêutico pois a natureza dessas “agressões disfarçadas” pode deixar as pessoas LGBTQIAPN+ se perguntando se suas dúvidas psicológicas e sentimentos confusos são uma reação exagerada ou "algo errado". Essas pessoas, após sofrerem esse tipo de agressão, podem se sentir estigmatizados, irritados, invalidados e rejeitados pelo psicoterapeuta. Um estresse que, obviamente, pode levar o paciente LGBTQIAPN+ à angústia, depressão, ansiedade e afetar negativamente a sua saúde física.
Suponho que essas “agressões disfarçadas” transmitem vícios do terapeuta, mas o fato é que elas podem minar e danificar a relação terapêutica. Pode estar havendo uma falta de consciência dos preconceitos em relação às minorias sexuais, mas não me cabe discutir a condição do meu colega, focando, contudo, no impacto negativo dessa atitude no tratamento do paciente. A qualidade da relação psicoterapeuta-paciente pode melhorar quando os terapeutas reconhecem as “agressões disfarçadas” que fazem durante a psicoterapia com clientes LGBTQIAPN+. Isso, certamente, cria uma atmosfera de confiança que pode cultivar conversas mais profundas sobre as necessidades dos pacientes.
Dentre as “agressões disfarçadas”, a mais grave, em minha opinião, é a crença de que o(a) paciente LGBTQIAPN+ é um(a) heterossexual necessitando de apoio num momento de dúvida. Supor que todos os indivíduos LGBTQIAPN+ necessitem de psicoterapia também é um posicionamento preconceituoso. Afirmar que ver-se como LGBTQIAPN+ é que causou o problema psicológico do cliente ocorre com alguma frequência. Alguns pacientes me contaram que alguns terapeutas supervalorizaram ou simplesmente não deram a mínima importância às suas orientações sexuais, ou mesmo deixaram evidente suas crenças de que a heterossexualidade é a única orientação normal. Outros terapeutas parecem ter mostrado pressupostos estereotipados sobre a cultura LGBTQIAPN+, e tem ainda aqueles que se prendem à suposição (sem a necessária investigação) de que traumas com o sexo oposto são a causa que leva homens e mulheres heterossexuais mudarem sua orientação sexual.
Na psicoterapia é indispensável ter ciência da fase do desenvolvimento da identidade de orientação sexual está o seu paciente. Conhecer essa fase ajuda a dar contexto às preocupações apresentadas por ele e o seu grau de autoaceitação como uma pessoa LGBTQIAPN+. Além da orientação sexual, outros fatores como raça, etnia, classe, religião e eventuais deficiências podem agregar complexidade à identidade e apresentação clínica desses clientes. Deve-se criar uma sensação de segurança e confiança na relação terapêutica validando as experiências dos pacientes LGBTQIAPN+ como uma minoria sexual e mostrando que é ciente e que compreende o impacto do estigma sobre a vida deles. Estar ciente dos diversos tipos de agressões que ocorrem na sociedade, é claro, é indispensável para o sucesso do trabalho psicoterápico.
Detalhes sobre os significados das letras da sigla LGBTQIAPN+:
L: Lésbicas - Mulheres que sentem
atração sexual e afetiva por outras mulheres.
G: Gays - Homens que sentem
atração sexual e afetiva por outros homens.
B: Bissexuais - Pessoas que sentem
atração sexual e afetiva por homens e mulheres.
T: Transexuais - Pessoas que assumem o
gênero oposto ao de seu nascimento. Uma identidade ligada ao psicológico, e não
ao físico, pois nestes casos pode ou não haver mudança fisiológica para adequação.
Q: Queer - Sempre foi usada como
uma ofensa para a comunidade LGBTQIA+, no entanto, as pessoas do grupo se
apropriaram do termo hoje é uma forma de designar pessoas que não se encaixam à
heterocisnormatividade, que é a imposição compulsória da heterosexualidade e da
cisgeneridade.
I: Intersexo - Pessoas que não se
adequam à forma binária (feminino e masculino) de nascença. Ou seja, seus
genitais, hormônios, etc. não se encaixam na forma típica de masculino e
feminino.
A: Assexual - Pessoas que não possuem
interesse sexual. Por vezes, esse grupo pode ser também arromântico ou não, ou
seja, ter relacionamentos românticos com outras pessoas.
P: Pansexual - Pessoas que
desenvolvem atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas
independentemente de sua identidade de gênero.
N: Não-Binário - Pessoas que não
se identificam com nenhum gênero, que se identificam com vários
gêneros, entre outras.
+ - O mais serve para abranger as demais pessoas da bandeira e
a pluralidade de orientações sexuais e variações de gênero.
Vale lembrar que apesar essa versão da sigla,
pode sofrer modificações a qualquer momento à medida que os estudos de gênero e
sexualidade se aprofundam cada vez mais. A sigla não pretende colocar as
pessoas em caixinhas e classificações, mas é uma ferramenta para ajudar a
incluir e compreender a pluralidade do ser humano.
Você pode acessar os conteúdos divulgados nesses locais:
- Blog do Psicólogo (www.blogdopsicologo.com.br)
- YouTube(https://youtube.com/c/CanaldoPsicologo)
- Facebook (https://www.facebook.com/paulocesarpctr/)
- Instagram (@paulocesarpsi)

Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
- Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
- Psicólogo de linha humanista existencial com acentuada orientação junguiana, budista e pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo e Psicologia Clínica.
- Voluntário no Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina.
- Psicólogo colaborador da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva.
- Associado à SBRA - Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e à ABRA - Associação Brasileira de Reprodução Assistida
- Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
- Consultório próximo à estação de metrô Vila Mariana em São Paulo, SP.
- Atendimentos (presenciais e por internet) de segunda-feira a sexta-feira.
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