ARTIGOS MAIS LIDOS:
Daqui em diante, você encontrará muitos outros artigos sobre psicologia. A finalidade da Psicoterapia é entender o que está ocorrendo com o cliente, para ajudá-lo a viver melhor, sem sofrimentos emocionais, afetivos ou mentais. Aqui você encontrará respostas sobre a PSICOTERAPIA - para que serve e por que todos deveriam fazê-la. Enfim, você encontrará nesses artigos,informações sobre A PSICOLOGIA DO COTIDIANO DE NOSSAS VIDAS.

REFLEXÕES SOBRE A PSICOTERAPIA DE PACIENTES LGBTQIAPN+

Inicialmente, vamos entender o que significam as letras da sigla LGBTQIAPN+: 

Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexo, Assexual, Pansexual, Não-Binário, +. Veja, ao final do texto, mais detalhes sobre essa sigla.

Ao longo de minha carreira como psicoterapeuta tenho atendido pacientes que necessitavam de orientações sexuais ou que apresentavam diversos distúrbios sexuais, conflitos quanto a sua identidade sendo que muitas dessas pessoas, por mais incrível que possa parecer, já pediram ajuda para que deixassem de ser homossexuais!!! Sobre isso, meus amigos, estou plenamente seguro, experiente e confortável para afirmar que transformar um homossexual num heterossexual é inconcebível, ou seja: não há possibilidades de mudar a identidade sexual afirmada de uma pessoa. A aceitação dessa afirmativa vai ao encontro da ideia de que a homossexualidade não pode mais ser vista como uma “doença” ou um “desvio”, um “transtorno”. Ela é, com toda a certeza, uma modalidade própria do amor, uma maneira de amar e se sentir amado, e que tem, contudo, uma dolorosa consequência que é a solidão. Esse é um dos principais focos deste processo terapêutico e sobre o qual, direi algumas palavras.

Com muita frequência esses pacientes revelam seus sofrimentos através de frases como: 

  • “sou homossexual e a minha família não me aceita”
  • “meus pais não me aceitam como sou”
  • “somente minha irmã sabe que sou gay”
  • “me sinto muito infeliz pois sou muito sozinho”

 Esse é o real problema a ser tratado na homossexualidade: a solidão afetiva!

O homossexual conquistou seu espaço na sociedade (a despeito da ainda existente homofobia), mas é uma pessoa solitária. Seu problema não é mais a afirmação da sua identidade sexual, mas sim, conseguir e vivenciar o amor, algo indispensável e importantíssimo para todos nós. Fazer sexo não é problema para homossexuais. Isso é fácil de conseguir, mas a afeição, a ternura, o compartilhamento da sua vida com um companheiro que o ame, dividindo o seu cotidiano lhe faz muita falta e a dor dessa falta é quase insuportável.

A solidão traz uma sensação de abandono e amargura, às vezes até de ser desprezado. Sufoca a alegria de viver e modifica a pessoa em sua beleza interna. Isso machuca muito. Aqui reside um dos pontos importantes na ajuda a esses pacientes. Refiro-me à psicoterapia, que nestes casos, deverá ter como objetivos a confirmação e autoaceitação da sua identidade sexual e a abertura e confiança para experiências interpessoais significativas (não superficiais) que possibilitem o encontro amoroso, aquele encontro que preenche a alma e que faz qualquer pessoa se sentir plena e realizada!

Ampliando a reflexão, vejo a psicoterapia como uma experiência complexa e muitas vezes vulnerável para os clientes, por isso a relação “psicólogo – paciente” é vital para o sucesso do processo. Isso implica em transparência, cuidados e uma aliança de trabalho. O desenvolvimento da relação terapêutica positiva é fundamental para promover a mudança e o crescimento do cliente e transcende as técnicas terapêuticas e a orientações teóricas.

Indo direto ao ponto, a partir de relatos de vários pacientes LGBTQIAPN+, conclui que à medida em que a psicologia desenvolveu mais consciência e aceitação das minorias sexuais, a discriminação aberta deu lugar a formas mais sutis de viés heterossexista. Ou seja, a discriminação desses pacientes está sendo, infelizmente, realizada por “agressões disfarçadas” e sutis como um olhar, um tom de voz ou mesmo com um comentário heterossexual.

Isso é muito grave se a discriminação ocorrer no set psicoterapêutico pois a natureza dessas “agressões disfarçadas” pode deixar as pessoas LGBTQIAPN+ se perguntando se suas dúvidas psicológicas e sentimentos confusos são uma reação exagerada ou "algo errado". Essas pessoas, após sofrerem esse tipo de agressão, podem se sentir estigmatizados, irritados, invalidados e rejeitados pelo psicoterapeuta. Um estresse que, obviamente, pode levar o paciente LGBTQIAPN+ à angústia, depressão, ansiedade e afetar negativamente a sua saúde física.

Suponho que essas “agressões disfarçadas” transmitem vícios do terapeuta, mas o fato é que elas podem minar e danificar a relação terapêutica. Pode estar havendo uma falta de consciência dos preconceitos em relação às minorias sexuais, mas não me cabe discutir a condição do meu colega, focando, contudo, no impacto negativo dessa atitude no tratamento do paciente. A qualidade da relação psicoterapeuta-paciente pode melhorar quando os terapeutas reconhecem as “agressões disfarçadas” que fazem durante a psicoterapia com clientes LGBTQIAPN+. Isso, certamente, cria uma atmosfera de confiança que pode cultivar conversas mais profundas sobre as necessidades dos pacientes.

Dentre as “agressões disfarçadas”, a mais grave, em minha opinião, é a crença de que o(a) paciente LGBTQIAPN+ é um(a) heterossexual necessitando de apoio num momento de dúvida. Supor que todos os indivíduos LGBTQIAPN+ necessitem de psicoterapia também é um posicionamento preconceituoso. Afirmar que ver-se como LGBTQIAPN+ é que causou o problema psicológico do cliente ocorre com alguma frequência. Alguns pacientes me contaram que alguns terapeutas supervalorizaram ou simplesmente não deram a mínima importância às suas orientações sexuais, ou mesmo deixaram evidente suas crenças de que a heterossexualidade é a única orientação normal. Outros terapeutas parecem ter mostrado pressupostos estereotipados sobre a cultura LGBTQIAPN+, e tem ainda aqueles que se prendem à suposição (sem a necessária investigação) de que traumas com o sexo oposto são a causa que leva homens e mulheres heterossexuais mudarem sua orientação sexual.

Atendo pacientes LGBTQIAPN+ há muito tempo e gostaria de dar algumas dicas sobre o que fazer para o processo ser produtivo. O primeiro passo é construir uma relação positiva e, para isso, algumas condições são necessárias. O psicoterapeuta tem que se sentir bem trabalhando com clientes LGBTQIAPN+ e deve ser uma pessoa resolvida em sua própria orientação sexual e identidade de gênero. Ele também deve ser isento de preconceitos e atitudes negativas nem deve, tampouco, sentir-se privilegiado por ser heterossexual. É importante estar consciente da possibilidade de estar prestando cuidados através de uma lente heteronormativa, e que isso pode levar a uma má interpretação dos pensamentos, sentimentos e comportamentos de clientes LGBTQIAPN+. O psicólogo tem que ter uma boa ideia sobre a cultura e o mundo LGBTQIAPN+. Está muito claro que clientes se frustram quando seu psicoterapeuta não conhece o suficiente sobre isso. Esse conhecimento deve ser obtido através de estudos pois apenas ter amigos LGBTQIAPN+ não o torna competente.

Na psicoterapia é indispensável ter ciência da fase do desenvolvimento da identidade de orientação sexual está o seu paciente. Conhecer essa fase ajuda a dar contexto às preocupações apresentadas por ele e o seu grau de autoaceitação como uma pessoa LGBTQIAPN+. Além da orientação sexual, outros fatores como raça, etnia, classe, religião e eventuais deficiências podem agregar complexidade à identidade e apresentação clínica desses clientes. Deve-se criar uma sensação de segurança e confiança na relação terapêutica validando as experiências dos pacientes LGBTQIAPN+ como uma minoria sexual e mostrando que é ciente e que compreende o impacto do estigma sobre a vida deles. Estar ciente dos diversos tipos de agressões que ocorrem na sociedade, é claro, é indispensável para o sucesso do trabalho psicoterápico.

É interessante saber que apenas cerca de 25% de clientes homossexuais, lésbicas, gays, travestis e “trans” preferem um psicoterapeuta que também seja LGBTQIAPN+. Logo, é fundamental que os terapeutas heterossexuais saibam como oferecer terapia favorável a esses clientes, afinal, trabalhar solidária e positivamente pela melhoria da saúde mental e emocional deve ser um objetivo de todos os psicólogos independentemente do cliente. Isto é particularmente importante quando se trabalha com qualquer grupo discriminado, incluindo o grupo LGBTQIAPN+, o que exige que psicólogos desenvolvam a autoconsciência, a competência e as habilidades para trabalhar com clientes minoritários sexuais. Isso inclui trabalhar para descobrir, reconhecer, desafiar e mudar crenças e atitudes heterossexuais para habilitar-se e capacitar-se para essa atividade. A maioria dos clientes que procuram terapia apresenta preocupações que podem ser dolorosas e confusas e os psicoterapeutas de LGBTQIAPN+ devem esforçar-se para aliviar estas preocupações, sem trazer tendências ou pressupostos heteronormativos subjacentes à psicoterapia.

Detalhes sobre os significados das letras da sigla LGBTQIAPN+:

L: Lésbicas - Mulheres que sentem atração sexual e afetiva por outras mulheres.

G: Gays - Homens que sentem atração sexual e afetiva por outros homens.

B: Bissexuais - Pessoas que sentem atração sexual e afetiva por homens e mulheres.

T: Transexuais - Pessoas que assumem o gênero oposto ao de seu nascimento. Uma identidade ligada ao psicológico, e não ao físico, pois nestes casos pode ou não haver mudança fisiológica para adequação.

Q: Queer - Sempre foi usada como uma ofensa para a comunidade LGBTQIA+, no entanto, as pessoas do grupo se apropriaram do termo hoje é uma forma de designar pessoas que não se encaixam à heterocisnormatividade, que é a imposição compulsória da heterosexualidade e da cisgeneridade.

I: Intersexo - Pessoas que não se adequam à forma binária (feminino e masculino) de nascença. Ou seja, seus genitais, hormônios, etc. não se encaixam na forma típica de masculino e feminino.

A: Assexual - Pessoas que não possuem interesse sexual. Por vezes, esse grupo pode ser também arromântico ou não, ou seja, ter relacionamentos românticos com outras pessoas.

P: Pansexual - Pessoas que desenvolvem atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero.

N: Não-Binário - Pessoas que não se identificam com nenhum gênero, que se identificam com vários gêneros, entre outras.

+ - O mais serve para abranger as demais pessoas da bandeira e a pluralidade de orientações sexuais e variações de gênero.

Vale lembrar que apesar essa versão da sigla, pode sofrer modificações a qualquer momento à medida que os estudos de gênero e sexualidade se aprofundam cada vez mais. A sigla não pretende colocar as pessoas em caixinhas e classificações, mas é uma ferramenta para ajudar a incluir e compreender a pluralidade do ser humano. 

Você pode acessar os conteúdos divulgados nesses locais:


Um abraço,

Psicólogo Paulo Cesar

  • Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
  • Psicólogo de linha humanista existencial com acentuada orientação junguiana, budista e pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo e Psicologia Clínica.
  • Voluntário no Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina.
  • Psicólogo colaborador da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva.
  • Associado à SBRA - Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e à ABRA - Associação Brasileira de Reprodução Assistida
  • Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
  • Consultório próximo à estação de metrô Vila Mariana em São Paulo, SP.
  • Atendimentos (presenciais e por internet) de segunda-feira a sexta-feira.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário