
(Série: Reeditando artigos interessantes)
A sabedoria popular nos ensina que a autoestima saudável é um pré-requisito para a vivência de um relacionamento amoroso saudável, ou seja, ensina que sem suficiente amor próprio, as pessoas não são capazes de amar verdadeiramente os outros. No âmbito da ciência psicológica, várias pesquisas comprovam que os sentimentos que uma pessoa tem sobre si mesmo podem, seguramente, influenciar também os sentimentos que ela tem sobre os outros. Mas eu quero lhe dizer que esse é um tema mais delicado e complicado do que parece.
Na
verdade, existem amplas evidências de que sentimentos de inutilidade e de ódio
a si mesmo podem interferir nos relacionamentos amorosos. Indivíduos com baixa
autoestima tendem a subestimar o amor do parceiro e a vê-lo em termos mais
negativos - talvez porque não acreditam que "uma pessoa boa e legal"
possa amá-lo. Como resultado, também tendem a relatar menos satisfação com seu
relacionamento e menos otimismo sobre o próprio futuro. Além disso, aqueles que
duvidam da própria autoestima são mais propensos a acreditarem (ansiosamente)
que serão rejeitados e vigiam, de modo bem atento, o comportamento de seus
parceiros em busca de sinais disso, muitas vezes interpretando erroneamente atos
positivos como hostis e de rejeição.
Para
as pessoas carentes de amor próprio é igualmente grave o fato de iniciarem relações
ruins, escolhendo e permanecendo com parceiros que não as tratam bem, e isso está e para além de verem seus relacionamentos de maneira mais negativa.
Decerto
seja de seu conhecimento que as pessoas com visualizações negativas sobre si
mesmas, com relativa constância, sentem-se atraídas por aqueles que as vêem
como elas se vêem, isto é, negativamente. A baixa autoestima também está ligada
à sensação de menos merecimento de felicidade, o que poderia levar as pessoas a
tolerar um tratamento inadequado.
Isso
significa que a autoestima é melhor para relacionamentos românticos? Não
necessariamente! Sob uma perspectiva, se extremado, a autoestima pode transformar-se em
narcisismo, e isso envolve egocentrismo e ego inflado. Nos relacionamentos, as
pessoas com traços narcísicos estão frequentemente interessadas em parceiros
que melhoram sua própria autoimagem, por exemplo, aquelas outras que são
consideradas especialmente atraentes ou bem-sucedidos. A consequência é que o
que pode parecer superficialmente ser amor e admiração pode, ao contrário, ser
uma manipulação, exploração e jogo psicológico. Ademais, o interesse
de um narcisista também pode ser passageiro, e isso parece ser uma das razões pelas
quais os relacionamentos dos casais de celebridades são “descontinuados”.
Há de se considerar, igualmente, que mesmo quando a alta autoestima não atinge exageros narcísicos, isso não
é necessariamente um grande trunfo para os relacionamentos. Hoje sabe-se,
através de vários estudos, que pessoas com alta autoestima são mais propensas a usar “estratégias de escape" quando surgem problemas com o
parceiro, ao invés de adotarem abordagens mais construtivas. As pessoas com autoestima
que são frágeis e dependentes de validação externa (como a autoestima costuma
ser) têm maior probabilidade de se tornarem defensivas ou porem a culpa nos outros
quando enfrentam suas próprias transgressões.

Acontece
que a autoaceitação não é um estado automático ou padrão. Muitos pessoas têm
dificuldade em aceitar a si mesmas exatamente como são. Não é tão difícil
aceitar as partes boas, mas os aspectos negativos são complicados para serem
aceitos, ainda que as pessoas tenham que aceitar-se plenamente, afinal, a
verdadeira autoaceitação é abraçar quem você é, sem quaisquer qualificações,
condições ou exceções.
Concluindo,
o amor próprio, então, pode não ser tão essencial para os relacionamentos como
às vezes fazemos parecer. O que parece ser mais saudável é a autoaceitação -
isto é, a capacidade se ver como uma pessoa basicamente boa e digna de amor,
sem precisar provar nada a si mesma ou sem necessidade de ofuscar os outros.
Uma pessoa que aceita a si mesma tem menor probabilidade de sobrecarregar e, às
vezes, incomodar o seu parceiro com uma busca excessiva de confiança ou crítica
excessiva. A plena autoaceitação pode estabelecer as bases para a autoestima
positiva, e os dois freqüentemente andam de mãos dadas, mas dizem respeito a
dois aspectos diferentes de como pensamos e sentimos sobre nós mesmos.
Para ser feliz num relacionamento amoroso, portanto, é necessário e importante a
aceitação de todas facetas do eu. Não basta simplesmente aceitar o que é bom,
valioso ou positivo sobre si próprio, visto que para exercer a verdadeira
autoaceitação, a pessoa também deve abraçar as partes menos desejáveis,
negativas e feias de si mesmo.
Se
você está pensando que aceitar todos os aspectos negativos de si mesmo parece
difícil, você não está errado! Não é fácil aceitar as coisas que queremos mudar
desesperadamente sobre nós mesmos; no entanto, é somente aceitando-nos
verdadeiramente que podemos iniciar um
processo de autodesenvolvimento significativo o qual envolve, a capacidade de
amar e ser amado plena e autenticamente. Em outras palavras, devemos primeiro
reconhecer que temos traços e hábitos indesejáveis antes de começarmos uma
nova história amorosa ou simplesmente, a fantástica jornada para sermos pessoas
melhores.
Espero que tenha gostado desse artigo. Há vários outros artigos no Blog do Psicólogo (www.blogdopsicologo.com.br) - acesse-os! CLIQUE AQUI para ler um artigo sobre o ciúme patológico.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
Psicólogo de linha humanista com acentuada orientação junguiana e budista.
Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
Consultório próximo ao Shopping Metrô Santa Cruz. Atendimento de segunda-feira aos sábados. Marcação de consultas pelo tel. 11.94111-3637 ou pelo whatsapp 11.98199-5612
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