Devemos envelhecer com dignidade ou sucumbir à pressão para que mantenhamos eternamente jovens? Afinal, são tantos cremes e remédios “antienvelhecimento”, cartões engraçados sobre envelhecer, memes, todos com uma mensagem incongruente com o acúmulo de anos, uma mensagem clara de que envelhecer é algo a evitar.
É claro que o etarismo tem uma
série de efeitos negativos ao bem-estar físico e mental das pessoas e da
sociedade como um todo. Além do mais, os estereótipos negativos que
alimentam o preconceito de idade geralmente interpretam mal o
envelhecimento. Quando dizemos que o envelhecimento não é totalmente
negativo, não é que estejamos usando lentes cor-de-rosa. Isso é baseado em
ciência rigorosa.
Como psicólogo, alinho-me com
todos os ativistas que estão tentando reformular as atitudes em relação ao
envelhecimento. Reconhecer a idade como um fator de risco para
discriminação, por exemplo, incentiva que se dê mais ênfase nos fatores
psicológicos do envelhecimento e promove uma narrativa mais produtiva sobre os
benefícios de uma expectativa de vida mais longa. A questão é: o que
podemos fazer como indivíduos e também como sociedade para promover um
envelhecimento mais positivo?
Você sabe que ativistas
psicólogos se esforçam para eliminar os estereótipos de idade checando fatos
para conscientização pública? Várias crenças sobre envelhecer estão sendo
questionadas. Analisando essas crenças, podemos ver que há informações que não
apenas contradizem o estereótipo negativo, mas também destacam uma força que
vem com o envelhecimento. Peguemos o estereótipo de que as pessoas se
tornam menos criativas à medida que envelhecem – na verdade, existem centenas e
centenas de exemplos de artistas e músicos que se tornaram mais criativos e
produtivos mais tarde na vida.
Podemos também derrubar o
estereótipo de que todos os tipos de habilidades cognitivas inevitavelmente pioram
com a idade. Sim, é verdade que algumas habilidades cognitivas, como
tempos de reação, tendem a diminuir um pouco com o tempo, mas outras funções
permanecem robustas e até melhoram. Um estudo com adultos mais velhos, por
exemplo, mostrou que eles eram melhores do que adultos de meia-idade em
orientar sua atenção e ignorar distrações.
Amigos, envelhecer oferece
outros benefícios. À medida que as pessoas envelhecem, elas tendem a se
tornar mais agradáveis e mais conscienciosas. Os adultos mais velhos
também tendem a ser melhores em regular suas emoções - Essas são mudanças positivas
que podem levar a uma maior maturidade social geral pois geralmente significam
que nos damos melhor com os outros e podemos prestar mais atenção à saúde ou
nos colocar em menos situações de risco. Tais mudanças podem ser parcialmente
responsáveis por outro fenômeno observado, conhecido como o paradoxo do
envelhecimento: as pessoas mais velhas tendem a relatar maior felicidade e
satisfação com a vida em comparação com as pessoas mais jovens. O fato é que
com tantas pesquisas que sugerem que, ao contrário da crença popular, a saúde
mental também melhora ao longo da vida, só posso dizer que essa visão de que a
velhice é um declínio negativo simplesmente não parece ser o caso.
A visão negativa da velhice
não é apenas falsa: também é perigoso. A narrativa de que a idade é um
declínio, um fardo, prejudica indivíduos, famílias, comunidades e sociedade,
enfim, prejudica a todos. Alguns adultos mais velhos precisam de apoio, mas a
verdade é que eles continuam a fortalecer a humanidade. Os idosos fazem
contribuições importantes para a força de trabalho, incluindo trabalho
remunerado, bem como voluntariado e prestação de auxílio social. Essas
contribuições para a sociedade são um recurso, não um luxo!
As mensagens internalizadas
sobre o envelhecimento também influenciam a saúde e o bem-estar de uma pessoa.
Conta-se que uma estudante de pós-graduação em Psicologia fez uma viagem ao
Japão para explorar por que os japoneses tinham a expectativa de vida mais
longa do mundo. Uma das primeiras coisas que ela observou foi como as
pessoas mais velhas eram tratadas de maneira diferente: elas são “celebradas”
em família, em programas de TV, em histórias em quadrinhos, etc. É certo que as
mensagens da sociedade sobre o envelhecimento afetam a saúde e o bem-estar de
uma pessoa e a prova é que aqueles que aceitam crenças mais negativas sobre a
idade tendem a apresentar pior saúde física, cognitiva e mental. A boa
notícia é que os que são expostos ou desenvolvem crenças de idade mais
positivas tendem a mostrar benefícios na saúde física, cognitiva e mental.
Sim, as crenças relacionadas à idade afetam realmente a saúde de várias maneiras. Por exemplo, os indivíduos que têm sentimentos mais negativos sobre envelhecer são mais propensos a experimentar níveis mais elevados de estresse, que tem sido associado a muitas doenças do envelhecimento. Além disso, as pessoas que se sentem fatalistas no envelhecimento podem ser menos propensas a se envolver em comportamentos saudáveis, como manter-se ativo ou tomar os medicamentos prescritos. Por outro lado, as crenças positivas sobre o envelhecimento protegem contra a demência, mesmo entre aqueles com um gene de alto risco. Mas os efeitos vão além da demência: as autopercepções negativas do envelhecimento estão associadas a uma maior prevalência de todas as oito importantes condições de saúde que incluem doenças cardíacas, doenças pulmonares, diabetes, distúrbios musculoesqueléticos e lesões diversas.
Concluindo, penso que há boas
razões para desafiar os estereótipos relacionados à idade e o preconceito de
idade. Os esforços estão começando a dar frutos e as informações mostram que
as intervenções para reduzir os estereótipos e preconceitos relacionados à
idade estão sendo eficazes. As melhores são as que combinam educação sobre o
envelhecimento com esforços para aumentar o contato intergeracional, visto que
uma das maiores ameaças à reformulação das atitudes em relação ao
envelhecimento reside na crescente segregação etária da sociedade. Estando
atento, você certamente perceberá que estamos numa vivência perigosa em que os
jovens quase não têm contato com pessoas mais velhas, exceto por contatos
intermitentes em suas próprias famílias. No entanto, o contato por si só nem
sempre é suficiente para desafiar as falsas ideias sobre a velhice; muitas
vezes vemos eventos que trazem jovens para lares de idosos para dar apoio e
afetividade ou fazer atividades com idosos, por exemplo, mas se os jovens não
estiverem preparados para interpretar essa experiência, eles podem realmente
sair com visões mais negativas do envelhecimento. Assim, é importante que
os mais jovens interajam com adultos mais velhos ativos e engajados, e também
para educar os mais jovens sobre o processo de envelhecimento. Por fim, é
importante lembrar que a experiência do preconceito e discriminação por idade pode
diferir com base em outros componentes da identidade de uma pessoa. Por
exemplo, certos grupos de idosos podem enfrentar barreiras únicas por causa de
sua idade combinada com gênero, deficiência, orientação sexual, raça, cor,
etnia, religião, cultura e idioma, e onde existir barreiras, seja de qualquer
tipo, a sociedade, principalmente os de mais idade, deve se unir para
derrubá-las. Mas não importa se tivemos a sorte de viver uma vida longa ou não,
é uma certeza que os estereótipos imprecisos sobre o envelhecimento prejudicam a
todos nós e precisam ser eliminados.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
- Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
- Psicólogo de linha humanista com acentuada orientação junguiana e budista.
- Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
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