Devemos envelhecer com
dignidade ou sucumbir à pressão para que mantenhamos eternamente jovens?
Afinal, são tantos cremes e remédios “antienvelhecimento”, cartões engraçados
sobre envelhecer, memes, todos com uma mensagem incongruente com o acúmulo de
anos, uma mensagem clara de que envelhecer é algo a evitar.

O preconceito de idade é
definido como discriminação contra pessoas mais velhas por causa de
estereótipos negativos e imprecisos, e está tão arraigado em nossa cultura que
muitas vezes nem percebemos. A maioria das organizações agora tem
departamentos de diversidade, equidade e inclusão para lidar com questões como
racismo e preconceito de gênero. Mesmo nesses departamentos, o viés de
idade raramente está no radar, o que me faz pensar que o preconceito de idade é estranhissimo no sentido de que ainda é socialmente aceitável de várias
maneiras.
É claro que o etarismo tem uma
série de efeitos negativos ao bem-estar físico e mental das pessoas e da
sociedade como um todo. Além do mais, os estereótipos negativos que
alimentam o preconceito de idade geralmente interpretam mal o
envelhecimento. Quando dizemos que o envelhecimento não é totalmente
negativo, não é que estejamos usando lentes cor-de-rosa. Isso é baseado em
ciência rigorosa.
Como psicólogo, alinho-me com
todos os ativistas que estão tentando reformular as atitudes em relação ao
envelhecimento. Reconhecer a idade como um fator de risco para
discriminação, por exemplo, incentiva que se dê mais ênfase nos fatores
psicológicos do envelhecimento e promove uma narrativa mais produtiva sobre os
benefícios de uma expectativa de vida mais longa. A questão é: o que
podemos fazer como indivíduos e também como sociedade para promover um
envelhecimento mais positivo?

Etarismo é um preconceito
teimoso. Pessoas de todas as idades mostram preconceito contra os adultos
mais velhos, embora a forma como o expressam mude ao longo da vida. Entre
os mais jovens, a preferência por outros jovens é mais explícita. Em
adultos mais velhos, essa preferência torna-se mais implícita. Seja qual for a forma,
as atitudes subjacentes ao preconceito de idade geralmente estão enraizadas em
falsidades. Embora seja verdade que o risco de algumas doenças crônicas e
demência aumenta com a idade, a maioria dos idosos mantém uma boa saúde e bom
funcionamento cognitivo. O envelhecimento é um processo muito
diversificado e existem grandes diferenças entre os indivíduos. É bom que
se fale que as coisas geralmente não são tão sombrias quanto a maioria das
pessoas espera.
Você sabe que ativistas
psicólogos se esforçam para eliminar os estereótipos de idade checando fatos
para conscientização pública? Várias crenças sobre envelhecer estão sendo
questionadas. Analisando essas crenças, podemos ver que há informações que não
apenas contradizem o estereótipo negativo, mas também destacam uma força que
vem com o envelhecimento. Peguemos o estereótipo de que as pessoas se
tornam menos criativas à medida que envelhecem – na verdade, existem centenas e
centenas de exemplos de artistas e músicos que se tornaram mais criativos e
produtivos mais tarde na vida.
Podemos também derrubar o
estereótipo de que todos os tipos de habilidades cognitivas inevitavelmente pioram
com a idade. Sim, é verdade que algumas habilidades cognitivas, como
tempos de reação, tendem a diminuir um pouco com o tempo, mas outras funções
permanecem robustas e até melhoram. Um estudo com adultos mais velhos, por
exemplo, mostrou que eles eram melhores do que adultos de meia-idade em
orientar sua atenção e ignorar distrações.
Amigos, envelhecer oferece
outros benefícios. À medida que as pessoas envelhecem, elas tendem a se
tornar mais agradáveis e mais conscienciosas. Os adultos mais velhos
também tendem a ser melhores em regular suas emoções - Essas são mudanças positivas
que podem levar a uma maior maturidade social geral pois geralmente significam
que nos damos melhor com os outros e podemos prestar mais atenção à saúde ou
nos colocar em menos situações de risco. Tais mudanças podem ser parcialmente
responsáveis por outro fenômeno observado, conhecido como o paradoxo do
envelhecimento: as pessoas mais velhas tendem a relatar maior felicidade e
satisfação com a vida em comparação com as pessoas mais jovens. O fato é que
com tantas pesquisas que sugerem que, ao contrário da crença popular, a saúde
mental também melhora ao longo da vida, só posso dizer que essa visão de que a
velhice é um declínio negativo simplesmente não parece ser o caso.
A visão negativa da velhice
não é apenas falsa: também é perigoso. A narrativa de que a idade é um
declínio, um fardo, prejudica indivíduos, famílias, comunidades e sociedade,
enfim, prejudica a todos. Alguns adultos mais velhos precisam de apoio, mas a
verdade é que eles continuam a fortalecer a humanidade. Os idosos fazem
contribuições importantes para a força de trabalho, incluindo trabalho
remunerado, bem como voluntariado e prestação de auxílio social. Essas
contribuições para a sociedade são um recurso, não um luxo!

O preconceito de idade no
local de trabalho afeta as decisões de contratação e promoção. Em
ambientes médicos, os estereótipos associados ao envelhecimento podem
influenciar as decisões de tratamento - as pessoas podem presumir,
incorretamente, que os idosos são muito frágeis para terapias de câncer mais
agressivas, por exemplo. No campo da saúde mental, a maioria dos
psicoterapeutas não recebe educação adequada em gerontopsicologia (ou psicogerontologia), e preconceitos e
estereótipos de idade podem influenciar suas atitudes e práticas. NO que
se refere ao preconceito de idade e saúde mental, evidências revelam que muitos
psicoterapeutas não tem preferência por trabalhar com pacientes mais velhos,
assumem prognósticos menos favoráveis para os mesmos e acreditam que a
depressão é uma consequência natural da velhice.
As mensagens internalizadas
sobre o envelhecimento também influenciam a saúde e o bem-estar de uma pessoa.
Conta-se que uma estudante de pós-graduação em Psicologia fez uma viagem ao
Japão para explorar por que os japoneses tinham a expectativa de vida mais
longa do mundo. Uma das primeiras coisas que ela observou foi como as
pessoas mais velhas eram tratadas de maneira diferente: elas são “celebradas”
em família, em programas de TV, em histórias em quadrinhos, etc. É certo que as
mensagens da sociedade sobre o envelhecimento afetam a saúde e o bem-estar de
uma pessoa e a prova é que aqueles que aceitam crenças mais negativas sobre a
idade tendem a apresentar pior saúde física, cognitiva e mental. A boa
notícia é que os que são expostos ou desenvolvem crenças de idade mais
positivas tendem a mostrar benefícios na saúde física, cognitiva e mental.
Sim, as crenças relacionadas à
idade afetam realmente a saúde de várias maneiras. Por exemplo, os indivíduos que
têm sentimentos mais negativos sobre envelhecer são mais propensos a
experimentar níveis mais elevados de estresse, que tem sido associado a muitas
doenças do envelhecimento. Além disso, as pessoas que se sentem fatalistas
no envelhecimento podem ser menos propensas a se envolver em comportamentos
saudáveis, como manter-se ativo ou tomar os medicamentos prescritos. Por outro
lado, as crenças positivas sobre o
envelhecimento protegem contra a demência,
mesmo entre aqueles com um gene de alto risco. Mas os efeitos vão além da
demência: as autopercepções negativas do envelhecimento estão associadas a uma
maior prevalência de todas as oito importantes condições de saúde que incluem
doenças cardíacas, doenças pulmonares, diabetes, distúrbios musculoesqueléticos
e lesões diversas.
Concluindo, penso que há boas razões para desafiar os estereótipos relacionados à idade e o preconceito de idade. Os esforços estão começando a dar frutos e as informações mostram que as intervenções para reduzir os estereótipos e preconceitos relacionados à idade estão sendo eficazes. As melhores são as que combinam educação sobre o envelhecimento com esforços para aumentar o contato intergeracional, visto que uma das maiores ameaças à reformulação das atitudes em relação ao envelhecimento reside na crescente segregação etária da sociedade. Estando atento, você certamente perceberá que estamos numa vivência perigosa em que os jovens quase não têm contato com pessoas mais velhas, exceto por contatos intermitentes em suas próprias famílias. No entanto, o contato por si só nem sempre é suficiente para desafiar as falsas ideias sobre a velhice; muitas vezes vemos eventos que trazem jovens para lares de idosos para dar apoio e afetividade ou fazer atividades com idosos, por exemplo, mas se os jovens não estiverem preparados para interpretar essa experiência, eles podem realmente sair com visões mais negativas do envelhecimento. Assim, é importante que os mais jovens interajam com adultos mais velhos ativos e engajados, e também para educar os mais jovens sobre o processo de envelhecimento. Por fim, é importante lembrar que a experiência do preconceito e discriminação por idade pode diferir com base em outros componentes da identidade de uma pessoa. Por exemplo, certos grupos de idosos podem enfrentar barreiras únicas por causa de sua idade combinada com gênero, deficiência, orientação sexual, raça, cor, etnia, religião, cultura e idioma, e onde existir barreiras, seja de qualquer tipo, a sociedade, principalmente os de mais idade, deve se unir para derrubá-las. Mas não importa se tivemos a sorte de viver uma vida longa ou não, é uma certeza que os estereótipos imprecisos sobre o envelhecimento prejudicam a todos nós e precisam ser eliminados.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro
Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.
Extensão e Certificação em Filosofia & Meditação (PUCRS), Certificação em Racismo e Psicanálise (Achille Mbembe), Pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo (Famart) e Psicologia Clínica (PUCRS).
Associado à ABRAP, SBRA e ABRA (Psicoterapia e Reprodução Assistida).
Colaborador do HSPMAIS – Saúde Suplementar e de Apoio à Pesquisa Clínica (Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina).
Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
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