Qualidade de vida e saúde das pessoas que trabalham sempre
foram preocupações merecedoras de atenção dos psicólogos. Por este motivo, muitos
de nós, profissionais da área da saúde mental, já escutou os desagrados de
profissionais bem-sucedidos, executivos ou não, sobre o excesso de trabalho ao
qual, julgam-se submetidos ou mesmo sobre a falta de motivação e vibração em
suas atividades. Nas situações mais dramáticas, esses descontentamentos acabam
sendo associados a graves problemas de saúde e, obviamente, muito pode ser
feito para atenuar esse descompasso. Entretanto, o primeiro passo parece-me que
seja ir contra a implementação de medidas paliativas e que abrangem apenas
efeitos e sintomas, pois a retórica da queixa pode ser questionada, afinal, com
o trabalho processamos cultura e criatividade, sendo para a pessoa, seria fonte
de prazer e não um castigo ou punição.
É razoável pensar que trabalhar demais pode
levar pessoas bem-sucedidas a distúrbios cardiovasculares e até mesmo à morte
prematura? A resposta é NÃO! E, para explicá-la, é melhor começar definindo o
que é exatamente trabalhar demais. Se há uma, duas ou três gerações, isso
significava intensa atividade física, hoje representa longas horas de
concentração, de planejamento, de relacionamento com uma equipe. Não há
evidências que liguem esse tipo de atividade a um infarto ou outros acidentes
do gênero sendo o ponto principal, de fato, a postura interior de cada um. Indiscutivelmente
há muitos fatores que podem atuar como precipitadores: fumo, má alimentação,
predisposição genética ou hereditária, excesso ou falta de exercícios, etc., mas
é cada vez maior, entre os especialistas, a certeza de que há muitos dados
psicológicos envolvidos.
Há alguns anos, cardiologistas
norte-americanos concluíram que os seus pacientes de ataque cardíaco prematuro
eram, de certa forma, o mesmo tipo de pessoa, com um perfil bastante típico.
Basicamente, podiam ser descritos como alguém em constante luta contra o tempo,
excessivamente preocupados com os prazos, sem conseguir realizar tudo o que se
propunha a fazer e raramente satisfeito como o que efetivamente realizava. Além
disso, apresentava, entre o que vamos chamar de "sentimentos ruins
favoritos", irritação, frustração, raiva e uma generalizada desconfiança
em relação às pessoas. Seus apoios emocionais, finalmente, eram mínimos, uma
vez que ele não os valorizava a ponto de cultivá-los.
Esse tipo de personalidade é conhecido como
"Tipo A", sinônimo do profissional que trabalha muito, com alto nível
de risco de morte prematura. E agora já se sabe que o trabalhar sem parar, esse
"estado de pressa", não é a fonte do excessivo desgaste físico desses
profissionais. O que gera esse desgaste, na verdade, relaciona-se com aqueles
tais "sentimentos ruins favoritos". É um pressuposto hoje muito
aceito, o de que cada um de nós, no curso do crescimento, sob a influência de
padrões estabelecidos por nossos pais, e como forma de proteção em épocas de
vulnerabilidade emocional, acaba por escolher um ou mais dos sentimentos ruins
favoritos, para os quais tendemos a voltar quando estamos sob pressão. Então
sentimos culpa, impotência, raiva, ressentimento, autopiedade, inveja,
ansiedade, ciúme, rejeição, humilhação, tristeza, entre muitos outros. Em
outras palavras, a ligação entre ataques cardíacos e os "Tipo A" vem
a ser, não a pressa que caracteriza suas atividades físicas e mentais, mas o
hábito de alimentar uma desconfiança hostil e generalizada para com o mundo, um
estado de vigilância suspeita latente. Esperando o pior, um "Tipo A"
se defende com a competitividade em busca de respeito, poder, dinheiro.
Há indicações de que, ao rotularmos a nossa reação aos
acontecimentos, esse rótulo ocasiona algumas mudanças químicas internas
específicas. Em outras palavras, se estou numa montanha-russa, meu corpo vai
reagir; se a reação me parece agradável, chamo-a excitação; se me é
desagradável, chamo-a de medo. A teoria atual é de que os elementos químicos
liberados pelo cérebro são diferentes em cada caso, o mesmo acontecendo com a
resposta fisiológica. Desse modo, o estado de alerta constante dos "Tipo A",
mantém uma estimulação permanente do córtex cerebral, que leva a um habitual
excesso de adrenalina no corpo. Para manter esse alto nível de estimulação que
acaba por se tornar "normal", usa-se tudo o que está à mão: o erro de
um funcionário, a demora de um colega em executar algo, um engarrafamento de
trânsito, o sucesso de um concorrente, as mudanças que ocorrem na empresa, os
conflitos sociais ou familiares, etc. E, na falta de acontecimentos que
justifiquem a exasperação, alimenta-se uma série de visualizações internas, que
insistem em interpretações imaginárias sobre o significado do comportamento dos
outros e do ambiente ao redor.
Há, porém, quem trabalhe intensamente sem
integrar essa categoria. São pessoas de muita energia, agradavelmente
estimuladas por suas atividades, mas capazes de abrir espaços em suas vidas
para a intimidade, a emoção, o lazer, as férias, os exercícios. O que acontece,
muitas vezes, é que acabam por mesclar-se numa mesma pessoa, os dois tipos de
comportamento, e o grau em que essa mescla vai ocorrer é que vai determinar a
duração de um processo de reavaliação. A psicoterapia é sempre uma ferramenta
preciosa, que atuará, por mais ou menos tempo, conforme o caso. De uma maneira
geral, no entanto, a melhor maneira de atacar o problema é redescobrir que a
produtividade no trabalho não deve ser a exclusiva "fonte da nossa
autoestima". É preciso que se entenda que temos um valor inerente,
trabalhando ou não, ganhando a competição com os outros ou não.
Se você suspeita de que algumas de suas motivações para o trabalho podem não ser saudáveis, procure responder a essas questões:
- Você
tem uma noção clara de seu valor pessoal, sendo ou não produtivo?
- Você
responde às necessidades de descanso e exercício do seu corpo?
- Você
equilibra sua vida profissional e pessoal?
- Você
investe tempo, pensamento e energia em suas relações pessoais?
- Você
se sente contribuindo positivamente para com seus semelhantes?
- Você
tem uma noção correta do que é "suficiente": de quanto dinheiro
você precisa, de quanto status, de quanto poder?
- Você está conseguindo o que quer na vida?
Sejam quais forem as suas respostas, considere estas duas
colocações dos doutores Ogilvy e Porter, em artigo para o Human Resource
Management: "A realização profissional, quando perseguida
inconscientemente para compensar deficiências pessoais reais ou imaginárias, é,
de fato, uma forma de auto traição. E a capacidade que cada um tem em
confrontar a verdade quanto à sua realização profissional e suas necessidades
humanas é que determina se a pessoa consegue esquecer a rotina ou se a
tendência é prosseguir tentando provar o que, afinal, não pode ser provado pelo
sucesso no mundo dos negócios".
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro
Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.
Psicólogo clínico orientador parental
Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.
Extensão e Certificação em Filosofia & Meditação (PUCRS), Certificação em Racismo e Psicanálise (Achille Mbembe), Pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo (Famart) e Psicologia Clínica (PUCRS).
Associado à ABRAP, SBRA e ABRA (Psicoterapia e Reprodução Assistida).
Colaborador do HSPMAIS – Saúde Suplementar e de Apoio à Pesquisa Clínica (Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina).
Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
Contatos: www.psipaulocesar.psc.br
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