
Muitos me perguntam se sou um
psicólogo budista e porque fiz essa opção, ao que me apresso em responder que não sou um psicólogo budista, mas sim, um
profissional que busca a integração de várias correntes psicológicas para,
assim alcançar um entendimento mais amplo do ser humano. Busco, num mundo de
intensas transformações e rápidas comunicações, as intersecções entre a cultura
ocidental e a oriental, e, se num atendimento psicoterapêutico prevalecer uma
abordagem da psicologia budista é exclusivamente porque o paciente apresenta
sintomas ou uma percepção do mundo conforme uma ótica que, usando os conceitos
ensinados por Buda, poderei ajudá-lo mais positiva e rapidamente. Vou explicar
um pouco mais sobre o motivo que me levou a considerar a psicologia budista em
meu trabalho como psicoterapeuta.
A natureza básica da mente humana é comum a todas
as pessoas, e como a mensagem do Buda é universal, a psicoterapia budista é
aplicável a todos, sem qualquer risco de destruir ou perturbar as crenças
religiosas, com o fim de sanar problemas psicoemocionais e melhorar a saúde
mental. A civilização moderna impõe muitas tensões ao homem e as do domínio
psicológico estão, talvez, entre as mais graves. As inúmeras exigências da vida
moderna dão origem a uma enormidade de tensões mentais e físicas, o que fez que
os problemas psicopatológicos recebam cada vez mais atenção por parte dos profissionais
da área de Saúde Mental. Como declarou o Buda, há mais de 2.500 anos, e enfatizou
o psicólogo e escritor americano, William James, as realidades da mente são tão
importantes, ou talvez mais importantes, que as realidades do corpo. Daí a
importância da saúde mental para o pensamento budista.
Além disso, o budismo considera o homem como uma unidade psicossomática,
cujo funcionamento equilibrado é necessário para o bem-estar e saúde mental,
havendo, como sugerido, uma interdependência fundamental entre mente e corpo em
todas as fases de uma doença e na saúde. Ensina o Dhammapada, que “a mente é a
precursora da todos os fenômenos", logo, na perspectiva budista, quando
nos referimos à saúde humana, devemos levar em conta primeiro a saúde mental. Mas,
lembre-se, a saúde mental precisa de cuidados físicos, psicológicos e sociais,
por ser um fenómeno que envolve uma interação entre mente, corpo e ambiente. Quer
dizer, saúde, em geral, resulta de um equilíbrio dinâmico que abrange os
aspectos físicos e psicológicos do homem, bem como as suas interações com o seu
ambiente natural e social. A tarefa da psicoterapia é multidimensional,
exigindo uma abordagem ampla, e isso, no enfoque budista é uma “regra”
indispensável.

A psicoterapia, em última análise, trata da
consciência humana, que é a principal preocupação do Budismo. Embora a visão
budista da consciência ultrapasse os conceitos da ciência contemporânea, ela
não é de forma alguma inconsistente com os conceitos dos sistemas modernos de
mente e matéria. O Budismo está preocupado com a “magistralidade ou plenitude”
perfeita do homem, e isso, nessa linha, só é possível através de uma
atualização da consciência. Sendo redundante, um pré-requisito para tal esforço, bem como para a saúde física geral, é a
saúde mental, uma vez que a doença, na sua essência, é um fenómeno mental,
condição que, progressivamente, está sendo percebida na atualidade. Assim, um
processo psicoterápico é útil para a recuperação da saúde perdida, por meio de
um equilíbrio psicossomático efetuado através da mente.
Há vários pontos semelhantes na abordagem ocidental e na oriental no que
se refere à terapêutica. Citarei alguns:
- A consciência
humana é de preocupação fundamental no budismo e na Psicoterapia Ocidental,
haja vista que a eliminação dos problemas mentais é uma condição sine qua
non para o desenvolvimento pessoal.
- A própria forma de
diálogo dos discursos do Buda lembra a abordagem de um psicoterapeuta com um
paciente que requer sua atenção.
- Na psicologia
budista acredita-se que o foco maior do tratamento é a causa e não os sintomas
da pessoa, prenunciando, por assim dizer, os fundamentos do moderno tratamento
psicoterapêutico.
- Desejos, amor,
ódio, apegos, incompreensão e ilusão são, para ambas as correntes, fatores
usados exaustivamente para a compreensão de um paciente.
Creio que escolher atuar também com a psicologia budista deve-se ao fato
do budismo ser uma “filosofia de caráter psicológico”, a qual aponta para um
jeito de conduzir a própria vida evitando o mal, fazendo o bem e purificando a
mente. Isso, obviamente, leva uma pessoa a um estado de paz, sem deixar, porém,
de estar atento à realidade, conscientizando-se dela e aceitando-a tal como ela
é. Tal como nos ensinamentos de Buda, o reconhecimento da existência do
sofrimento é o primeiro passo para, havendo uma correta compreensão dessa
verdade, trabalharmos, paciente e psicoterapeuta, pela diminuição ou cessação
de sua dor, seja emocional, psicológica e, em muitos casos, a dor física.
Um outro bom motivo para ser adepto da psicologia budista está no fato
dela conter a resposta para as pessoas que buscam o sentido da vida, além das
respostas aos diversos problemas psicológicos e sociais, espirituais ou mesmo
místicos dos dias atuais, porém com uma importante característica: a psicologia
budista não propõe soluções baseadas em teorias e especulações, apenas aquelas
que sejam sustentadas pela sabedoria e pelo conhecimento. Isso leva-me, durante
o atendimento psicoterapêutico, a evidenciar ao paciente a importância e
necessidade de se ter uma percepção direta e total da verdade, fazendo-o
entender também que isso só é possível através do esforço próprio, paciência e
inteligência. É importante essa passagem pois, afinal de contas, é o homem quem
traça a rota do seu próprio destino. Nesse ponto, há um encontro com a
Psicologia Humanista e Existencialista que tem entre os seus pressupostos, o
fato de que a cura psicológica é possível estimulando-se o paciente a
autodesenvolver-se, pois todos os homens reúnem em si condições para isso... e
porque, mediante próprio esforço e dedicação, todos tem em suas mãos, a
capacidade de libertarem-se da ignorância e do sofrimento. Em suma, tanto a
psicologia humanista existencialista como a budista pregam que o homem é o seu próprio mestre, capaz de libertar-se dos
condicionamentos e dos apegos - seja a coisas do passado como a nada ainda não
acontecido, conseguindo, assim, viver plenamente o presente e a reconhecer o
mundo e a si próprio tais como são.

A psicologia budista dá ênfase também na responsabilidade em aceitar as
coisas, afastando o paciente dos estados ilusórios. São palavras do Buda: “não vos deixeis guiar pelas palavras dos
outros, nem por tradições existentes, nem por rumores; não vos deixeis guiar
pela autoridade dos textos religiosos, nem por simples lógica ou dedução, nem
por aparências, nem pelo prazer da especulação sobre opiniões, nem por
verossimilhanças possíveis, nem por simples impressão ou pela ideia; mas desde
que souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são desfavoráveis,
falsas e ruins, então renunciai a elas... e quando souberdes e sentirdes, por
vós mesmos, que certas coisas são favoráveis e boas, então deveis aceitá-las e
segui-las; todos devemos sempre examinar as questões pois cada pessoa deve
estar inteiramente convencido do valor real do seu ensinamento". Veja
que esse conceito recomenda que o paciente veja por si mesmo e não creia,
simplesmente, rejeitando qualquer fé prévia. O budismo é baseado na visão das
coisas pelo conhecimento e compreensão, e não pela fé ou crença cega. A crença
surge quando não há visão - visão em todo o sentido da palavra. No momento em
que vemos, a crença desaparece e a fé cede lugar à confiança baseada no
conhecimento.
Enfim, amigos e clientes, respondendo à questão inicial, sou um budista
psicólogo e não atuo apenas com a psicologia budista, mas reconheço que ela tem
um espaço considerável em meu trabalho pois é sempre um convidar a "vir e
ver", e não vir para crer; com certeza, há muitas oportunidades para,
através dos conceitos propostos pela psicologia budista, convidar os meus
clientes a abrirem os olhos e verem livremente, e não fechá-los, dando ordem a
crer.
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Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar T. Ribeiro
Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e gestantes – Presencial e Online.Psicólogo clínico de linha humanista existencial e de orientação das Psicologias Analítica (Carl Jung), Relacional e Budista.
Extensão e Certificação em Filosofia & Meditação (PUCRS), Certificação em Racismo e Psicanálise (Achille Mbembe), Pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo (Famart) e Psicologia Clínica (PUCRS).
Associado à ABRAP, SBRA e ABRA (Psicoterapia e Reprodução Assistida).
Colaborador do HSPMAIS – Saúde Suplementar e de Apoio à Pesquisa Clínica (Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina).
Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
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