Queridos Irmãos,
Com alegria, informo a vocês que escrevi o livro Salmo 133 na Maçonaria - União, Ego e Fraternidade, uma leitura psicológica e simbólica para o mundo contemporâneo, fruto do diálogo entre minha vivência maçônica e a Psicologia.
Neste trabalho, o Salmo 133 é lido não apenas como ideal de união, mas como um espelho simbólico dos desafios reais da convivência fraterna, do ego e da maturidade emocional..
É um livro de 256 páginas em tamanho 16x23 cm, considerando os capítulos e apêncides, e para que tenham uma ideia do tom e da proposta da obra, compartilharei a seguir o Prólogo.
Ao final, deixarei os links para quem desejar adquirir o livro.
***
SALMO 133 NA MAÇONARIA - UNIÃO, EGO E FRATERNIDADE
Prólogo do livro
Há textos que atravessam
séculos como se fossem parte da respiração humana. O Salmo 133 é um deles.
Curto como um sussurro e profundo como uma montanha, ele sobreviveu não apenas
porque é belo, mas porque diz algo essencial sobre o destino humano: nascemos
para o encontro, mas não sabemos como habitá-lo.
O tempo, ao passar, faz
escolhas. Há textos que se tornam monumentos, outros que se reduzem a vestígios,
outros ainda em ruínas que visitamos por curiosidade histórica. O Salmo 133 não
pertence a nenhuma dessas categorias. Ele é um rio subterrâneo que atravessa
séculos silenciosamente, brotando vez ou outra em pequenas superfícies de água
pura, mas cujo curso profundo não se revela a quem apenas recita palavras. Seu
poder não está na letra, mas na atmosfera que cria, na forma como toca o espaço
psicológico entre os seres, na vibração que produz quando é lido não como
poesia religiosa, mas como um estado interior.
Em um século marcado pela
cultura do espelho, onde a predominância do ego é confundida com força e o
vínculo fraterno se tornou uma commodity emocional descartável, o Salmo
133 ressurge não como uma citação antiga, mas como um antídoto existencial para
a fragmentação contemporânea.
É por isso que ele sempre
esteve presente no coração da Maçonaria, mesmo quando não se falava
explicitamente dele. Incorporou-se ao rito sem anúncio, como se tivesse intuído
que ali encontraria uma morada adequada: um espaço simbólico onde a
fraternidade é menos um ideal e mais uma construção laboriosa do espírito.
O maçom que avança em
silêncio pelo Templo talvez não perceba que, antes de atravessar qualquer grau,
ele atravessa um estado de consciência. E este estado foi anunciado por Davi
quando escreveu: “Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em “união”.
A frase parece simples demais para inaugurar um caminho iniciático, mas sua
simplicidade esconde um paradoxo: a “união”
é sempre uma obra difícil.
E mais: ela é “suave”.
Mas essa suavidade não é fraqueza. Ela é a força que se expressa sem violência;
a potência que se manifesta sem atrito.
A “união” é “suave” porque só pode surgir quando a aspereza do
ego foi polida pelo ritual, quando o impulso natural de predominância foi
substituído pela humildade da presença. Ela não se impõe; ela acontece quando o
espírito encontra disciplina interna suficiente para escutar, acolher e
sustentar o vínculo.
O rito a evoca
simbolicamente no encontro de olhares, na contenção da palavra, no gesto de
respeito mútuo, na tentativa de suspender - ainda que por instantes - as
turbulências do ego. Ao entrar no Templo, o irmão não se torna automaticamente
unido a ninguém; ele se coloca diante de um estado que precisa aprender a
habitar, e este estado é, em essência, o Salmo 133 respirando através dele.
O portal ritual do Salmo
133 não é uma porta física ou um limite explícito; é um movimento de
consciência. A “união” que ele
celebra não é espontânea, nem sentimental, nem ingênua. Ela é construída como
se se erguesse uma ponte entre territórios que, por natureza, não se
compreendem de imediato.
O ego humano raramente
deseja a “união”; ele deseja
predominância, reconhecimento, segurança. A fraternidade, enquanto experiência
psíquica, é um chamado contra a gravidade natural da psique, e o rito torna
visível essa luta interior. Por isso o azeite que escorre sobre a “cabeça” de Aarão é uma metáfora adequada: a “união” exige um movimento vertical que
desce sobre nós, uma descida suave que penetra as zonas onde a alma resiste,
onde preferiríamos permanecer isolados, protegidos, intactos. A “união” ritual é um “óleo” que encontra fissuras e nelas repousa.
Entrar no Templo é,
portanto, fazer o gesto de se deixar alcançar por essa descida. Não é raro que
os irmãos, mesmo os mais antigos, experimentem uma espécie de apaziguamento
interior ao adentrar o espaço sagrado. Este apaziguamento não é mera associação
afetiva ou nostalgia fraternal: é o reconhecimento, ainda que inconsciente, de
que colocamos o pé em um território que suspende a lógica ordinária do mundo.
As tensões da vida profana
não desaparecem, mas se reorganizam diante de algo mais amplo. O Salmo 133 age
como um campo sutil, um convite à diminuição do ruído interno para que a
percepção da presença do outro possa emergir com mais nitidez. Em outras palavras,
ele prepara o psiquismo para o encontro.
E é desse encontro que
nasce a verdadeira ritualidade. Nada no rito é apenas decorativo. Os símbolos -
o compasso, o esquadro, a pedra bruta, o malhete - não falam de objetos, mas de
estados psíquicos. Cada um deles aponta para um processo de transformação em
que a “união” é o horizonte, não o
ponto de partida.
Um irmão não se torna
fraterno porque conheceu outro irmão; ele se torna fraterno porque permitiu que
algo dentro dele fosse polido, reorientado, afinado. O Salmo não descreve uma “união” já conquistada: descreve uma “união” a ser continuamente reencenada.
A cada reunião, a cada gesto, a cada silêncio compartilhado, o Templo se torna
laboratório de um modo de ser que o mundo exterior raramente incentiva.
Talvez seja por isso que,
para muitos maçons, a sensação de “voltar para casa” ao entrar no Templo não
seja apenas emotiva, mas simbólica. A casa dos irmãos que o Salmo implicitamente menciona não
é um lugar: é um estado. E como todo estado interior, ele precisa ser cultivado.
Não existe fraternidade
madura sem vigilância constante, sem cuidado com as palavras, sem humildade
diante dos próprios limites, sem a consciência de que o vínculo humano pode ser
tão delicado quanto o “orvalho” que
repousa sobre o Monte Hermon. É significativo que o Salmo utilize o “orvalho” como metáfora: ele não cai com
violência, não se anuncia, não altera a paisagem abruptamente. Ele sustenta a
vida com suavidade. A verdadeira “união”
também age assim: discretamente, sustentando o que não aparece.
Quando o Salmo 133 ressoa
dentro do Templo, mesmo que não seja lido, ele cria uma moldura invisível na
qual os irmãos se reconhecem como participantes de uma obra comum. Não uma obra
externa, mas uma obra interior. O rito não apenas conduz o maçom: ele o afina.
Ele o coloca em uma frequência onde virtudes como paciência, escuta, cooperação
e presença podem emergir com menos resistência.
E é precisamente essa
frequência que Davi captou quando escreveu o Salmo. Ele não estava descrevendo
um ideal utópico; estava descrevendo uma realidade possível - porém frágil -
que só se sustenta quando há consciência do esforço necessário para mantê-la
viva.
Assim, este texto inicial
se volta ao coração do rito não para explicá-lo, mas para revelar que há um
portal simbólico que antecede tudo. Antes de qualquer grau, antes de qualquer
luz, antes de qualquer viagem, existe a necessidade de atravessar o estado
interior que o Salmo 133 evoca. Ele é o limiar entre o homem que adentra o
Templo e o homem que sai dele transformado, mesmo que de forma sutil.
A Maçonaria não adota o
Salmo 133 como enfeite ou citação honrosa: ela o respira. E quando o maçom se
permite entrar nessa respiração, o rito se torna não apenas um caminho de
instrução, mas um caminho de “união”
consigo, com o outro e com aquilo que transcende ambos.
Mas esse estado de
consciência não se sustenta apenas no abstrato; ele é forjado em memória, gesto
e ancestralidade. Antes de respirarmos o Salmo com a alma, precisamos honrá-lo
em sua raiz concreta, compreendendo o que significavam o “óleo” e o “orvalho” para
o homem que o escreveu e o que significam os gestos que o maçom reencena no
Templo. É a partir dessa fundação histórica e mitológica que o símbolo se
liberta para se tornar ferramenta psicológica.
- Clube de Autores, em formato impresso: https://clubedeautores.com.br/livro/salmo-133-na-maconaria
- Uiclap, em formato impresso: https://loja.uiclap.com/titulo/ua139887
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