
Sendo
um psicoterapeuta de adolescentes e adultos com longo tempo de atuação, logo de
cara quero lhe dizer que incomodar os filhos não adianta nada. Adicionar
ameaças de punição quando os adolescentes não seguem seus conselhos, piora a
situação. Na verdade, incomodar é uma expressão de emoções negativas e pode trazer
sérias consequências não boas para os relacionamentos entre pais e filhos.
Na
competitiva cultura da era digital de hoje, crianças e adolescentes ouvem
constantemente mensagens negativas de colegas que afetam sua resiliência,
autoconfiança e esperança no futuro. Na escola, eles podem estar lutando para
tirar boas notas, competir nos esportes ou para simplesmente sentir-se aceito.
A maioria das crianças, em algum momento do ensino fundamental ou médio, passa
a acreditar na mensagem "não sou suficientemente bom", e isso,
realmente, não traz nada de positivo para a formação do indivíduo.
O
lar deve ser o principal local onde as crianças recebem reforço positivo e
apoio sem confronto. Os adolescentes com pais que entendem esses conceitos
geralmente negociam seus caminhos durante a adolescência para descobrir que são
suficientemente bons conforme suas idades e maturidades e, de fato, gostam de
quem são. Nos lares com interações diárias negativas com os pais, a
adolescência se torna muito mais desafiadora. Se houver a sensação avassaladora
de que nada do que faz é bom, os adolescentes podem ficar entediados, ansiosos,
deprimidos e apáticos.
Irritar
é um padrão que se desenvolve ao longo do tempo e envolve duas pessoas. As duas
pessoas precisam reconhecer e mudar o padrão, mas, obviamente, quando ocorrem
infrações às regras da família, as consequências devem existir. Entretanto, a
maior parte dos pais irrita-se com ocorrências em duas categorias: Coisas
pequenas e Coisas grandes que agora são da responsabilidade de seu(sua) filho(a)
adolescente descobrir por si mesmas.
Bem,
o fato é que o trabalho psicológico dos adolescentes é “tornar-se você mesmo”,
isto é, formar uma identidade separada de seus pais. Por outro lado, o trabalho
psicológico dos pais é valorizar esse(a) jovem adulto(a) emergente enquanto sofre
com a “perda” de seu(sua) filho(a) compatível. É algo muito difícil para
adolescentes e pais, e tudo fica mais difícil quando os pais não permitem que os
adolescentes façam seu próprio trabalho de “tornar-se você mesmo”. Os pais
geralmente acreditam que têm uma visão melhor do sucesso do que os adolescentes
e essa mentalidade leva pais e adolescentes a entrar em águas turbulentas,
criando uma condição para a irritação.
Durante
os anos que antecederam a adolescência, os pais ocupam papéis que lhes permitem
ter maior poder e autoridade sobre seus filhos e filhas. Muitas vezes, essa
autoridade é suficiente para fazer com que as crianças cumpram exigências ou
sugestões simples. Em algum momento do ensino fundamental e médio, é natural
que as crianças desenvolvam suas próprias identidades, sendo parte desse
processo a obtenção de um senso de escolha e controle sobre suas próprias
vidas.
Irritações
sempre criam disputas de poder entre pais e adolescentes, uma disputa onde não há
vencedores. Considere o seguinte cenário:
- Mãe para filho adolescente: “Quando você fará o trabalho de casa da matéria “x”? Você já me disse que o professor é muito exigente e não tolera trabalhos atrasados!
- Filho para mamãe: “Sim, eu sei. Você não precisa me lembrar. "
- Mãe para filho: "Bem, claro que preciso lembrá-lo, porque você não está indo bem nessa matéria.
- Filho: Silenciosamente sai da sala.
Neste
exemplo, nem a mãe nem o filho se sentem bem com a interação realizada. Certamente
ambos ficaram com raiva e nada foi realizado. Ou o filho age como uma criança
obediente e faz sua lição de casa, ou exercita
seu senso de autocontrole e nega (ou atrasa) a execução. Seu cérebro
adolescente em amadurecimento lhe dá um impulso natural em direção à negação. A
mãe, talvez desconhecendo sua influência instável na vida de seu filho (ou o
papel natural da adolescência), fica frustrada. Ela se pergunta: "O que
estou fazendo de errado?". A mãe e o filho entram em um padrão de
irritação que não é saudável para nenhuma das partes. A mãe repete suas
demandas em vários tópicos; o filho exerce seu controle. O padrão é autoperpetuante,
com cada um reagindo ao outro de maneiras semelhantes.
A
alternativa ao incômodo é desenvolver um relacionamento que fortaleça a
comunicação com o filho: "Você é suficientemente bom de acordo com a sua
idade e maturidade". Os jovens precisam se sentir ouvidos e compreendidos
- para saber que os pais os apoiam e não os julgam. Para os pais, significa
deixar de lado a ideia de supervisionar tudo para aprender a respeitar o
sentimento emergente de nova identidade de seu(sua) filho(a). Por onde começa? Minha
sugestão é iniciar com as seguintes etapas:
- Identifique e reconheça o padrão: Se você
desenvolveu um padrão de irritação em sua casa, comece reconhecendo sua
existência e não colocando culpa nos pais ou no(a) adolescente. Irritar é
um problema compreensível e que pode ser alterado. Identificar um
comportamento negativo permite substituí-lo por comportamentos positivos.
- Inicie uma mudança positiva: Geralmente é o pai
que deve iniciar a mudança. Às vezes, isso acontece como resultado de
psicoterapia, pois muitas vezes, as mudanças positivas são auxiliadas por terceiros
especialistas. Dito isto, muitos pais podem abandonar o hábito de
incomodar o adolescente, especialmente quando reconhecerem como isso está
afetando a si mesmos e aos filhos(as).
- "Encontre-se mais" com seu(sua) filho(a): Nunca é tarde para
renegociar um relacionamento saudável com seu(sua) adolescente. Se
incomodar é um hábito que envolve mais de uma criança ou afeta toda a
família, considere discuti-lo em uma reunião de família. Caso contrário,
você pode resolver o problema entre as duas partes mais envolvidas.
- Nomeie o problema: Assuma a responsabilidade
pelo seu papel de incomodar e nomeie o problema. Informe o seu(sua) filho(a)
que você não é perfeito e não espera que ele(a) seja perfeito(a).
Compartilhe seus sentimentos sobre si mesmo quando importuná-los. Escute
seu(sua) filho(a) adolescente. Entenda como ele ou ela se sente quando são
incomodados(as). Fale sobre a autoidentidade emergente de seu(sua) filho(a)
adolescente e seus próprios sentimentos sobre a perda do(a) filho(a) que eram
antes. O que parecer autêntico e real para a sua situação é o melhor ponto
de partida. Convide uma conversa bidirecional com seu(sua) filho(a)
adolescente, sem vergonha ou culpa.
- Crie um novo plano: Explore como você pode tomar
medidas que melhorarão a situação. Por exemplo, mamãe diz: "Eu sei
que você é capaz e não vou mais interferir ou lembrá-lo sobre a lição de
casa, a menos que você me peça. Isso será difícil para mim, porque se
tornou um hábito. Você gostaria de compartilhar uma breve atualização
sobre seus trabalhos escolares toda semana, para não me preocupar com
você?” Se o(a) filho(a) concordar, também concorde em que dia da semana deve
esperar a atualização: "Se não tiver notícias suas nesse dia, tenho
sua permissão para perguntar sobre sua atualização no dia seguinte?".
Descubra o que seu(sua) filho(a) precisa de você e ofereça-se para atender
a sua solicitação de uma maneira que seja agradável. Reúna-se toda semana
ou duas nos primeiros meses para garantir que você esteja cumprindo o
plano e negociando outras questões que surgirem. Mantenha um senso de
humor. Talvez crie um sinal manual secreto para lembrar um ao outro quando
comportamentos irritantes estão surgindo.

Quando as famílias se livram dessas irritações,
os relacionamentos são infundidos com mais energia e compaixão. Os pais
conhecem e apreciam os adolescentes pelo que eles são, não apenas pelo que
fazem. Essa mudança de foco ajuda os pais a reforçar os valores familiares que
ajudam a criar ambientes de aprendizado saudáveis para seus filhos e para
eles mesmos.
Espero
que tenha gostado desse artigo. Há vários outros artigos no Blog do Psicólogo (www.blogdopsicologo.com.br) - acesse-os! CLIQUE AQUI para
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Um
abraço,
Psicólogo
Paulo Cesar
Psicoterapeuta
de adolescentes, adultos e casais. Psicólogo de linha humanista com
acentuada orientação junguiana e budista. Palestrante sobre temas ligados
ao comportamento humano no ambiente social e empresarial.
Consultório
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